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Emoção e orgulho marcaram a cerimônia de premiação da ONC, em Brasília. Fundo de População das Nações Unidas ressaltou que estimular meninas e adolescentes no universo da Ciência contribui para o alcance de protagonismo e do pleno potencial da juventude e para o empoderamento feminino

BRASÍLIA, Distrito Federal - 

Um clima de descontração e orgulho marcou a cerimônia de premiação da Olimpíada Nacional de Ciências (ONC), nesta quarta-feira (23). A emoção de estudantes, familiares e representantes institucionais tomou conta do auditório do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), em Brasília (DF). Mais de 3 milhões de estudantes participaram da competição. Um dos momentos mais marcantes da solenidade foi a premiação do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) a cinco meninas de escolas públicas mais bem classificadas em cada uma das regiões do país.

“A iniciativa de reconhecer os destaques femininos é como dar um toque de realidade no Ensino e dizer: ‘Ei, nós [meninas, mulheres] estamos aqui e nascemos para isso e tudo mais o que quisermos fazer’. Não é porque a história foi manipulada para distorcer o papel feminino que temos que aceitar esse fato como realidade. A iniciativa do UNFPA alcança este exato ponto”, avalia Paula Silveira Araújo, 16 anos, melhor colocada entre os concorrentes do Centro-Oeste. 

“Acho uma iniciativa fundamental para que, cada vez mais, as mulheres possam ocupar posições de destaque no mundo acadêmico, algo que todas temos total capacidade. Iniciativas como a do UNFPA são essenciais para que as meninas brasileiras estejam cada vez mais presentes na Ciência”, emenda Ana Clara Nunes Betanzzo, 15 anos, classificada em primeiro lugar na Região Sul.

Também foram premiadas pelo Fundo de População da ONU, as estudantes Luísa Dantas Portela, 12 anos, que liderou a Olimpíada na Região Norte; Ana Clara Leal Machado, 19, primeira colocada da Região Nordeste; e Maria Eduarda Oliveira Gonçalves, 16, melhor classificada na Região Sudeste. No total, 40 alunos com maiores pontuações, de escolas públicas e privadas de 18 estados, receberam medalhas, certificados e troféus destacando-se entre os mais de 3 milhões de inscritos na competição deste ano.

Júnia Quiroga, representante auxiliar do UNFPA no Brasil, destacou o papel da Olimpíada como “um instrumento poderoso” para o fortalecimento da Ciência no país como também para a abertura de possibilidades aos jovens. “Para que a infância, adolescência e juventude identifiquem oportunidades e possam percorrer os caminhos que escolheram, e não que lhes foram impostos pela falta de acesso a serviços, políticas e, fundamentalmente, a direitos”, ressaltou.

Ao enfatizar a participação de 4,5 mil municípios na Olimpíada deste ano, o ministro Paulo Alvim [Ciência, Tecnologia e Inovações] afirmou que a ONC representa "transformação" e que conhecimento gera mais conhecimento: “É um ciclo do bem”. Pai de quatro meninas, Alvim agradeceu o apoio do UNFPA e reforçou: “Iniciativas como a da ONU mostram caminhos para a maior valorização das mulheres, que são transformadoras, são talentos que precisam ser reconhecidos".

Também compuseram a mesa de autoridades da cerimônia, o coordenador-geral da Olimpíada, Jean Carlo Antunes Catapreta; o diretor do Departamento de Promoção e Difusão do MCTI, Daniel Lavouras; a gerente-executiva de Comunicação e Marca da Petrobras, Fernanda Bianchini Egert; e o vice-reitor da Universidade Federal do Piauí (UFPI), Viriato Campelo. “Vocês são o suprassumo da ciência escolar no Brasil”, frisou Catapreta, ao pedir que os estudantes premiados ajudem a incentivar mais crianças e adolescentes a participarem da ONC. “Para o fortalecimento da Ciência e do conhecimento em nosso país”, completou.

Cláudia Silveira, mãe da estudante Paula Silveira Araújo, tentava segurar o choro durante a solenidade de premiação. “Foi tudo muito especial”, resumiu a moradora de Goianira (GO). “Espero o melhor para a carreira da minha filha”, acrescentou Cláudia, ao pontuar o desejo de Paula: fazer Medicina. Além de receber o Troféu UNFPA, a estudante goiana foi uma das premiadas, durante a cerimônia, com uma viagem de  Centro de Lançamento Aeroespacial de Alcântara (CLA), no Maranhão.

Os 40 estudantes mais destacados da Olimpíada foram premiados na cerimônia. Foto: ©UNFPA/Renatha Melo
Os 40 estudantes mais destacados da Olimpíada foram premiados na cerimônia. Foto: ©UNFPA/Renatha Melo

Presença e empoderamento feminino

Este ano, segundo a organização da Olimpíada Nacional de Ciências, quase metade das inscrições foi de meninas. Resultado deste movimento é que, para a edição 2023, a ONC terá, como compromissos programáticos, a promoção da igualdade de gênero e o empoderamento de mulheres, meninas e pessoas jovens com deficiência.

A parceria do UNFPA com a ONC visa que  as provas da Olimpíada adotem cada vez mais  uma abordagem transversal com enfoque em direitos humanos abrangendo aspectos de saúde reprodutiva, violência baseada no gênero e alternativas para a juventude. Além disso, será realizada a adequação do formulário de inscrição da competição para ampliar a participação de pessoas com deficiência.

“Há desigualdades importantes de gênero em nosso país; inclusive, no ambiente escolar e na família, que minam a autoconfiança de meninas e adolescentes. Isso reflete, por exemplo, no desempenho das estudantes em matemática, o que, na idade adulta, dificulta a inserção das mulheres em determinadas áreas”, observa Júnia Quiroga.  “É como se as meninas até hoje fossem condicionadas, desde cedo, às áreas de cuidados, à maternidade. Porém, é preciso entender e valorizar que há outros caminhos possíveis. E uma das principais missões do UNFPA é atuar para que cada jovem atinja seu pleno potencial”, acrescenta a representante do Fundo.

Após a entrega dos Troféus UNFPA às cinco alunas - confeccionados de forma artesanal e individualizada, em pedra Ametista - Júnia Quiroga reforçou que a representatividade das estudantes na ONC demonstra avanços nos processos de empoderamento e ampliação do protagonismo feminino no Brasil. “Temos convicção de que a transformação social no país, em prol de um desenvolvimento sustentável e mais inclusivo, passa pela participação ativa das meninas e mulheres. Esta premiação junto à ONC contribui com a superação de barreiras para que as adolescentes conquistem espaços de atuação e destaque majoritariamente ocupados por homens, além de evidenciar os temas do mandato do UNFPA junto aos adolescentes e jovens e  à comunidade científica”, completa a representante auxiliar do Fundo de População da ONU.

A Olimpíada

A 7ª Olimpíada Nacional de Ciências teve início no último dia 18 de agosto. Participaram da ONC 2022 alunas e alunos de escolas públicas e particulares do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental II, do 1º ao 3º ano do Ensino Médio e do 4º ano do Ensino Técnico, além de estudantes de Educação de Jovens e Adultos (EJA).

A competição é promovida desde 2016 com o objetivo de despertar e estimular o interesse pelo estudo das ciências, identificar estudantes talentosos e incentivar o ingresso deles nas áreas científicas e tecnológicas. Este ano, a competição adotou o braile para a inclusão de alunos cegos ou com baixa visão. As provas incluíram questões de Astronomia, Biologia, Física, História e Química.