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Jovens contam que após serem contemplados no segundo edital Nas Trilhas de Cairo passaram a se enxergar como parte de ações globais. 

Por Anaís Cordeiro

O edital Nas Trilhas de Cairo foi a primeira aprovação em um grande edital da organização Fruto de Favela, que nasceu na Comunidade do Jacaré, bairro Maranguape I, no Município de Paulista em Pernambuco. Liderada por jovens, a mobilização que originou a organização teve início em 2015, com o objetivo de transformar o contexto de vulnerabilidade social da comunidade. Sete anos depois, foram novamente contemplados no edital do Fundo de População  das Nações Unidas (UNFPA) para o fortalecimento institucional de organizações, as lideranças do Fruto de Favela celebram conquistas e vislumbram novas possibilidades. 

"O Fruto de Favela surge a partir do contexto de vulnerabilidade social que vivenciamos, a partir da inquietação dessa juventude. E atua para mudar o contexto social através de intervenções tecnológicas, pedagógicas, políticas, ambientais e sociais, sempre prezando trazer mais informação, mais educação e mais consciência social para as pessoas envolvidas", explica a vice-presidente da organização, a pedagoga Débora Paixão, de 24 anos. 

A iniciativa mobiliza 40 voluntários e desenvolve diferentes projetos nas áreas da cultura, educação e assistência social. O programa "Frutificar", por exemplo, é voltado para o ensino de princípios básicos de programação e outras tecnologias para adolescentes, o projeto "Florescer" oferece cursos na área da estética para mulheres e jovens negras visando a geração de renda e empregabilidade, o "Educart" promove a educação através da arte, e o "Favela Respira" arrecadou recursos para vítimas das enchentes e outros efeitos da Crise Climática que atingiram a região. 

O "Ticket Favela" também é uma iniciativa que visa contribuir com a dignidade e segurança alimentar de famílias da Comunidade Jacaré. Mensalmente, famílias recebem um ticket alimentação que pode ser utilizado em um comércio local. Com esse acompanhamento tão próximo das demandas da comunidade, os voluntários do Fruto atestaram também a necessidade de atividades internas que promovessem o aprimoramento e autocuidado da própria equipe, algo que segundo Débora, foi possibilitado pelo edital Nas Trilhas de Cairo

"O edital fortaleceu as nossas capacidades técnicas e nosso cuidado coletivo. É muito massa essa iniciativa do UNFPA que faz a gente olhar para a área interna da organização porque é importante a gente estar com as nossas sinergias para que possamos ampliar os nossos horizontes, nossos resultados e nossos impactos", afirma Débora.  

 

Um dos projetos, o "Florescer", oferece cursos na área da estética para mulheres e jovens negras.
Um dos projetos, o "Florescer", oferece cursos na área da estética para mulheres e jovens negras.

 

Irrigando o solo do Fruto

Com o apoio do edital, a organização pôde alugar um espaço para sua sede , adquirir equipamentos, e também promover oficinas de formação para 14 líderes e voluntários. No total foram 16 oficinas formativas com temas como Agenda 2030, planejamento estratégico, design, oralidade, metodologias aplicadas em projetos sociais, entre outros. 

Durante essas formações, e também com recursos do edital, foi oferecido aos voluntários, apoio para o transporte e alimentação dos palestrantes e voluntários. Para Débora, esse investimento irrigou o solo do Fruto de Favela, e fortaleceu toda a equipe: "A  partir desse edital do UNFPA a gente pegou um gás maior, se inscreveu em outros editais e foi selecionado em outros dois. Foram editais mais curtos, mas mesmo assim, pra gente foi uma vitória e mostra cada vez mais que a gente tem capacidade", diz. 

Além de fortalecidos com o apoio estrutural, em contato com os temas relacionados ao mandato do UNFPA para o Brasil, o Fruto de Favela também passou por um processo de reconhecimento do próprio trabalho e potencialidades.  Líder de gestão de pessoas do Fruto de Favela, a professora Elizabeth Silvestre, 26 anos, conta que ao estudar a fundo os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), toda a equipe passou a se ver como parte de ações globais transformadoras. 

"Sobre a Agenda 2030 a gente acabou tendo duas formações. A primeira foi para absorver o impacto porque a gente pensava que o que a gente fazia era pequeno, mas vimos quantas ODS o Fruto de Favela se encaixava perfeitamente. A gente achava que estava fazendo algo territorial até reconhecer as nossas ações na Agenda 2030", conta Elizabeth. 

Fortalecidos, os voluntários do Fruto de Favela agora planejam coletivamente as próximas ações, mais conscientes das potencialidades do projeto que desenvolvem. "A gente estava em uma realidade antes de passar no edital do UNFPA e hoje a gente está em outra realidade. Estamos com mais maturidade, capacidade técnica e social. Cada vez mais fortalecidos, e com mais comprometimento com a nossa própria trajetória", afirma Elizabeth.