A saúde do homem pede uma urgente mudança de mentalidade social e mais ação da área da saúde. Essa foi a conclusão de gestores, profissionais de saúde, governos e organismos internacionais a partir do “I Seminário Internacional de Saúde do Homem na Tríplice Fronteira”. Entre os dias 20 e 21 de novembro um público de mais de 250 pessoas pode ter uma profunda reflexão sobre a saúde do homem, em especial daqueles que vivem na fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai, em um evento promovido por Itaipu Binacional, Ministério da Saúde do Brasil, Ministério da Saúde do Paraguai e o Fundo de População das Nações Unidas, o UNFPA.
O seminário é uma atividade do GT Itaipu Saúde. O encontro e a parceria foram idealizados no ano passado, durante a 104º Reunião do GT Itaipu Saúde – ocasião onde também foi assinado o novo Memorando de Entendimento (MdE) entre UNFPA e Itaipu Binacional.
Para o representante do UNFPA no Brasil e Diretor de País para Argentina e Paraguai, Harold Robinson, o seminário alertou sobre a importância de se investir no tema na região: “Este seminário reitera ao GT Itaipu Saúde a importäncia do tema como um eixo de trabalho. A saúde do homem é um desafio global e precisa da correta atenção para que os homens possam contribuir para o desenvolvimento dos países, de suas comunidades e famílias”.
A representante auxiliar do UNFPA, Fernanda Lopes, ressaltou a importância de conhecer as necessidades específicas dos homens na área da saúde enquanto sujeitos de direitos. “As singularidades do sujeito masculino precisam ser melhor compreendidas e trabalhadas pelos serviços de saúde. É preciso compreender os contextos de vulnerabilidade, identificar e contemplar as necessidades dos homens em saúde”, disse. Lopes lembrou ainda que garantir a saúde como um direito humano significa eliminar todas as barreiras ao acesso aos serviços, as informações e as ações e que, para atender ao público masculino, isto ainda é um grande desafio.
Durante o seminário, os participantes refletiram sobre a construção social do masculino e a importância de mudança de mentalidade e da própria formação dos meninos, dos jovens e dos homens. “Gênero é um conceito relacional que traz um olhar diferenciado para os universos feminino e masculino. Feminilidades e masculinidades se constroem a partir da experiência cotidiana das pessoas”, explicou Fernando Zingman, do Ministério da Saúde da Argentina.
Norma Encisa, fundadora da ONG PREALPA, do Paraguai, destacou: “O homem desenvolve valores de autossuficiência e competitividade. É uma educação que acontece desde o nascimento. E muitos desses valores bloqueiam o acesso do homem ao serviço de saúde”. A afirmação foi praticamente unânime entre os painelistas do evento, que apontaram a necessidade da adequação dos serviços de saúde às necessidades dos homens, em especial daqueles que vivem na região fronteiriça. “Acesso à saúde é um direito fundamental garantido para todo ser humano. Mas observamos a falta de formação das pessoas dos serviços de saúde na ética e direitos humanos. É preciso promover programas para garantir cuidados de saúde adequados aos homens. E o sistema de saúde muitas vezes não esta preparado para oferecer um acolhimento de qualidade; deixam de fora os homens e suas necessidades específicas”, disse Encisa.
Augustin Bergeret, do Ministério da Saúde do Uruguai, reforçou: “O Sistema de Saúde está voltado para o materno-infantil. É preciso começar a mudança para que os homens sejam incluídos por este sistema”. Eduardo Shwars, coordenador da Área Técnica de Saúde do Homem do Ministério da Saúde do Brasil, concordou: “Temos que ir onde os homens estão. O desafio é conseguir acolher os homens não apenas na atenção básica, mas nos serviços de média e grande complexidade. É um desafio que temos encarado, mas é um processo”.
“Assim como as mulheres estão conquistando os espaços públicos, os homens também querem estar mais no espaço privado. E, as vezes, o próprio serviço de saúde é quem não está alinhado a isso”, destacou Viviane Castello Branco, da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, ao discorrer sobre paternidade.
O I Seminário Internacional da Saúde do Homem na Tríplice Fronteira foi também uma oportunidade para compartilhamento de experiências dos países envolvidos na promoção e atenção à saúde desse segmento da população e na reflexão sobre como trabalhar em conjunto. As participantes e os participantes compartilharam conhecimentos e experiências sobre acolhimento em serviços, autocuidado, paternidade, uso ou abuso de álcool e outras drogas, saúde no trabalho.
Itaipu
A Usina Hidrelétrica de Itaipu, a maior do mundo em produção de energia, é uma empresa binacional criada pelo Brasil e Paraguai em 1974. Além de gerar 20% da eletricidade consumida no Brasil e 87% da energia usada no Paraguai, a Itaipu Binacional desenvolve um amplo programa de responsabilidade socioambiental, incluindo programas de voluntariado, incentivo à equidade de gênero, de proteção à criança e ao adolescente, de iniciação ao trabalho e de saúde.
O Programa Saúde na Fronteira, desenvolvido pelo GT Itaipu Saúde, beneficia uma população de 1,5 milhão de pessoas que vivem na Tríplice Fronteira, com iniciativas nas áreas de saúde materno-infantil, indígena, do idoso e do homem, entre outras, tem atuado, prioritariamente, na ampliação das capacidades da força de trabalho em saúde com vistas à melhorar a qualidade do atendimento em sua área de influência.