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Durante a quarta edição da Sala de Situação Violência Baseada em Gênero, organizações participantes debateram os impactos da pandemia na saúde mental de mulheres que estão à frente da luta por direitos e no enfrentamento à violência

por Thais Zimbwe

As restrições impostas pela pandemia de Covid-19 trouxeram um conjunto de sobrecargas, especialmente para as mulheres que, sem suas redes de apoio e uma divisão sexual do trabalho desigual, tiveram que se desdobrar no acúmulo de tarefas, manutenção dos lares, cuidados com a família, empobrecimento, a insegurança alimentar e a defesa de direitos humanos, contextos adornados por uma rotina intensa de violências e privação de direitos. Como falar em saúde mental e cuidado num cenário tão desafiador e que demanda ainda mais atenção e atuação das organizações sociais?

Pensando nisso, a quarta Sala de Situação sobre Violência Baseada em Gênero no Norte Nordeste, realizada na última quinta-feira (05), promoveu uma roda de diálogos sobre cuidado feminista e antirracista na pandemia de Covid-19 para mulheres ativistas. Para Luana Silva, oficial de Gênero e Raça do UNFPA Brasil, o cuidado também é uma forma de lutar: olhar as necessidades internas, parar para se cuidar e seguir no ativismo.

“Está é uma Sala de Situação construída a partir do cuidado. Durante os encontros anteriores, percebemos o processo de cansaço de todas nós. As dificuldades para se trabalhar a violência baseada em gênero no contexto da pandemia, o empobrecimento de muitas mulheres, a falta de apoio para as ações da sociedade civil e os falecimentos em decorrência da Covid-19 de integrantes do grupo”, explicou ela. Nos últimos dois meses, três mulheres que integravam a iniciativa, faleceram. Lideranças com trajetórias marcadas pela luta por direitos, são elas: Rosimeris Cavalcante Barbosa, Miriam Blos e Maria Lúcia Lira de Sousa.

Autocuidado como ação política 

A Sala de Situação inclui na programação uma atividade dinamizada pelo Instituto Amma Psique. As mulheres foram divididas em grupos para refletirem coletivamente sobre a situação atual de seu estado emocional e do que precisam para se sentirem cuidadas. 

“É preciso pensar a saúde numa dimensão coletiva. Pensar numa dimensão de cuidado que dialogue com o Bem Viver, tão importante para as mulheres negras”, explica Clélia Prestes, integrante do Amma Psique.

Para Michele Dantas, oficial de projetos no escritório regional do UNFPA na Bahia, abordar o autocuidado é falar sobre a rotina de cada ativista e a necessidade de fortalecer as organizações nas suas capacidades de proteção coletiva. “As mulheres estão cansadas. A intensidade da atuação da sociedade civil na situação da pandemia, mulheres vivendo em situação de violência, tudo isso tem promovido muito desgaste. Ouvimos relatos emocionantes que demonstraram a importância de criar esse momento de intercâmbio e fortalecimento entre as mulheres”, enfatiza ela.

Uma pesquisa de percepção realizada pela Gênero e Número e a SempreViva Organização Feminista demonstrou que as tarefas de cuidados se evidenciaram de forma mais intensa na pandemia. Entre as mulheres entrevistadas, 50% passaram a cuidar de alguém na pandemia. Para as mulheres participantes da Sala de Situação, o encontro possibilitou acolhimento, troca de afeto, aprendizado e partilha de experiências. Nos diferentes momentos, as participantes coincidiram que os efeitos da pandemia, a ausência de políticas públicas e a falta de apoio para a atuação da sociedade civil, criam obstáculos consideráveis para a luta política, principalmente, para o desenvolvimento de ações de amparo e acolhimento às pessoas vítimas de violência. Porém, elas também concordam que o cenário desanimador impõe desafios de superação, atuação conjunta e fortalecimento da ação coletiva das organizações.

Próximos encontro

Em setembro, a Sala de Situação discutirá os temas de orçamento e políticas para as mulheres, além do planejamento da campanha para o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher, celebrado em 25 de novembro.