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Na tarde de sábado, 23 de julho, treze mobilizadoras comunitárias participaram da 1a oficina do projeto “Se tem mulher, tem luta: todas contra o zika”, tendo como tema: o racismo. A atividade ocorreu na sede do Coletivo de Mulheres do Calafate, situado na comunidade do Calafate, em Salvador (BA), e faz parte de uma série de oficinas com foco no debate sobre as consequências da epidemia do zika vírus e outras arboviroses no Brasil, sobretudo para as pessoas em maior situação de vulnerabilidade socioeconômica e, especialmente, às mulheres negras.

Participaram da 1ª oficina lideranças do próprio Calafate e de outras comunidades, sendo a maioria mães e com idades entre 35 e 50 anos. Neste primeiro momento as mulheres compartilharam suas experiências com o racismo e como o enfrentamento ao crime está diretamente conectado a epidemia de zika, dengue e chycungunya. Valdecir Nascimento, doOdara, foi responsável pela atividade e iniciou sua fala fazendo uma reflexão sobre racismo a partir da noção de raça e as diferenças entre fenotipo e genotipo para Brasil e EUA, as implicações da autodeclaração, a desconstrução de um olhar estigmatizado do continente africano e uma análise sobre a opressão a partir das diferenças.

Em seguimento, a coordenadora doOdarapediu para as mobilizadoras contarem experiências de racismo que tinham vivenciado. Das mais diversas situações, como serem seguidas por seguranças em shopping ou não conseguirem um emprego pelo tom da pele ou pelo bairro em que mora, as mais relatadas por elas se referiam as suas vivências com seus filhos e filhas. Foram falas como “Tenho dois filhos. Um é mais claro. Me perguntam se é filho do mesmo pai.”, “Eu sou clara e meu noivo é mais escuro. Me dizem: Você já imaginou como vai ser seu filho?” ou “ Levei meu filho na pediatra e ela disse: E a mãe, ‘Bá’, por quê não veio?”.

 

Após identificar que para as participantes, os acontecimentos de racismo identificados por elas foram mais para as questões estéticas, ofensas verbais e discriminação nos espaços de trabalho, Valdecir fez uma contextualização sobre os elementos e formas do racismo, que mesmo sendo exemplificados nos relatos, não foram apresentados com os seus nomes ‘oficiais’, como o racismo institucional, sofrido em espaços públicos de saúde, educação, entre outros e o racismo ambiental, ambos por vezes consequência de negligências do Estado.

“Nos bairros da cidade de Salvador, de maioria branca, da elite, não tem zika, não tem mosquito Aedes. E por quê não tem? Por que aqui, no Calafate, no Uruguai, no Suburbio tem e lá no Corredor da Vitória não? Por causa do racismo ambiental, da falta de saneamento. Os pretos podem ficar no lixo? Esperar a coleta passar quando quiser como se não pagassemos imposto igual? A taxa de esgoto é mais cara que a taxa de água. E por que acontece? Quanto mais se é preto, maior o descaso. O racismo institucional é isso”, destacou Valdecir que finalizou ressaltando a importância de que racismo é crime e precisa ser denunciado. “Temos de reagir. Se violou nossos direitos, não podemos concordar”.

 

As atividades promovidas pelo Odara– Instituto da Mulher Negra integram a iniciativa “Mais Direitos, Menos Zika” do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), que inclui nove organizações da sociedade civil em Pernambuco e Bahia em parceria com Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE), Corpo de Resposta Civil Internacional (CANADEM), e recursos dos Governos do Japão e Reino Unido, e do Fundo de Emergência Global do UNFPA.

Dentro do Marco Estratégico da Resposta Global e Plano de Operações Conjuntas para Zika da Organização das Nações Unidas (ONU), o UNFPA também contribui para a resposta brasileira à epidemia de Zika com ações desenvolvidas com a Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) e ONU Mulheres, no âmbito do Grupo de Trabalho para Zika do Sistema da ONU no Brasil.

Com informações de Midiã Noelle /Odara– Instituto da Mulher Negra

Fotos: Midiã Noelle /Odara– Instituto da Mulher Negra