Nota técnica publicada pelo grupo Racismo e Saúde da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) aponta que, durante a pandemia da Covid-19, comunidades quilombolas espalhadas pelo país com grande concentração de pessoas em grupo de risco enfrentam uma barreira de acesso a serviços de saúde, como atenção primária, e insegurança alimentar, estando expostas a maiores riscos de morte após o contágio. O grupo de trabalho tem apoio institucional do Fundo de População da ONU no Brasil para análise do impacto da pandemia entre a população negra.
De acordo com a nota técnica, as comunidades quilombolas têm investido em auto-isolamento durante a pandemia, adotando suas próprias barreiras sanitárias. Com a baixa cobertura em serviços de atenção primária nesses locais, a situação tem se agravado, uma vez que muitas pessoas que têm doenças crônicas como hipertensão e diabetes acabam se enquadrando no grupo de risco da Covid-19, aumentando os riscos de contágio e morte ao ter que buscar os serviços de saúde nas áreas urbanas.
Além disso, a nota também indica a dificuldade de acesso a alimentos. “Em muitas áreas não há eletricidade, acesso à internet e as pessoas não têm telefone, CPF, e/ou são analfabetas e por isso não conseguem fazer o cadastro para obter os benefícios governamentais. Outras, quando conseguem, não podem se deslocar até a cidade para buscar os recursos por falta de transporte, de dinheiro ou medo de contágio, o que as impede de acessar também toda a rede de proteção social, inclusive para doenças de violência doméstica e abusos sexuais”, conclui a nota, assinada pelos pesquisadores Hilton Silva e Givânia Silva.
O texto ressalta ainda a necessidade de direcionar esforços para o alcance de justiça e equidade entre as comunidades quilombolas, observando o acordado na Década Internacional de Afrodescendentes.
O Fundo de População da ONU tem trabalhado com a sociedade civil e estimulado o debate sobre o impacto da Covid-19 entre a população negra desde o início da pandemia. Um webinário produzido em parceria com a Associação Brasileira de Estudos Populacionais (Abep) reuniu especialistas que apontaram um maior risco de contágio e exposição ao vírus entre as pessoas negras. O tema também foi abordado em episódio do podcast da organização, o “Fala, UNFPA”.
