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No mês do Dia Internacional da Mulher, o UNFPA celebra a jornada de quatro ativistas que estão abrindo caminho para outras mulheres. Conheça os trabalhos de Tanzila Khan, no Paquistão; Carmen Barroso, no Brasil; Marijana Savic, na Sérvia; e Edna Ismali, na Somália.

Fotos (da esquerda para a direita): cortesia de Tanzila Khan, Deli Barroso, ONG Atina e Arthur Nazaryan/Delphin Films.

Apesar de décadas de ativismo e promessas, as mulheres ainda enfrentam desvantagens em quase todas as esferas - do ambiente de trabalho e familiar aos níveis governamentais e empresariais mais altos.

Políticas e sistemas continuam negligenciando as necessidades das mulheres, deixando que elas, por exemplo, fiquem sem acesso a serviços de saúde reprodutiva ou métodos contraceptivos. A discriminação contra as mulheres as priva de oportunidades de educação e de garantirem o seu sustento, o que as torna mais suscetíveis que os homens a serem pobres e analfabetas. Esta desigualdade é refletida na persistência da violência contra a mulher, que afeta uma em cada três mulheres no mundo.

O Dia Internacional da Mulher é um dia para refletir sobre as conquistas das mulheres que se recusam a aceitar essa situação de desvantagem. 

Para comemorar a data, o UNFPA celebra as ações de quatro inspiradoras ativistas dos direitos das mulheres. Estas mulheres são líderes em seus países e comunidades. Todas superaram desafios enormes em nome das pessoas mais vulneráveis e marginalizadas.

Estas quatro mulheres usam suas vozes para lutar por igualdade; una-se a elas!

1. Edna Adan Ismail, fundadora do Hospital Edna Adan e ativista contra a mutilação genital feminina

Quatro ativistas Edna Adan

“Aprenda a liderar pelo exemplo e seja um modelo positivo para outras mulheres e meninas”, pede Edna às ativistas. Foto: Sarah Winfield/Edna Adan Foundation

Já faz algum tempo que Edna Ismail é uma pioneira: ela foi uma das primeiras mulheres da Somália a se tornar enfermeira e parteira, a ter uma carteira de motorista e a ocupar uma posição de liderança no sistema de saúde. Em 1965, ela foi recrutada pela Organização Mundial de Saúde para educar outras enfermeiras e parteiras e, em 1976, iniciou sua militância contra a mutilação genital feminina.

Estas conquistas foram contra todas as adversidades: a desigualdade de gênero é profundamente enraizada no Chifre da África. Não há nem mesmo escolas para meninas onde Edna cresceu. Sua inspiração veio de seu pai, um médico. “Ele permitiu que eu aprendesse a ler e escrever com os meninos”, disse. “Ele me tratou da mesma maneira que tratava meu irmão e meus primos, me encorajando para que eu buscasse o mesmo direito para as outras meninas”.

Nos anos 1960, apesar das conquistas, Edna não haviasido nomeada a cargos públicos “porque era mulher e nenhuma mulher jamais havia sido nomeada a tais posições”. Ainda assim, ela não recuou e, após dois anos de trabalho, Edna recebeu a nomeação.

Quatro ativistas Edna Adan 2

Edna Ismail é amplamente reconhecida por suas contribuições à população. Foto: Arthur Nazaryan/Delphin Films

Como profissional da saúde, Edna testemunhou como a desigualdade de gênero pode matar. A Somália tem uma das maiores taxas de mortalidade materna do mundo, sinal de que as demandas para a saúde das mulheres não vêm sendo supridas.

Para mudar esta situação, Edna abriu uma maternidade e um hospital universitário na Somalilândia em 2002. Lá, profissionais da saúde são treinados a não cuidar somente da saúde das mulheres, mas também sobre seus direitos.

O hospital se tornou referência como instituição para a região. Em 2010, Edna estabeleceu uma universidade, que conta atualmente com mil estudantes matriculados em cursos da área da saúde.

O trabalho de Edna Ismail tem reconhecimento mundial: em 2010, ela foi condecorada com a Ordem Nacional da Legião de Honra da França.

Para ela, entretanto, as mulheres ainda têm um longo caminho a percorrer. “Não alcançamos, ainda, nossos objetivos para a igualdade de gênero”, disse ao UNFPA, organização que apoia programas em seu hospital.

Ela aconselha outras mulheres ativistas: “se você acredita que o quê você está fazendo está correto, não desista para agradar os outros”.

2. Marijana Savic, fundadora e diretora da ONG Atina

Quatro ativistas Marijana Savic

“As mulheres e meninas devem ser ouvidas, reconhecidas e respeitadas como indivíduos, e não definidas por seus papéis sociais de gênero como somente mães ou esposas. Elas devem ter as mesmas chances que todas as outras pessoas”, disse Marijana. Foto: cortesia a ONG Atina.

“Durante a década de 1990, eu perdi meu país e, com isso, parte da minha identidade”, disse Marijana ao UNFPA, referindo-se ao conflito na antiga Iugoslávia. “Eu testemunhei o horror e o sofrimento das pessoas, especialmente das mulheres e meninas… Os direitos humanos foram deixados de lado, era essa a realidade para os direitos das mulheres”.

Estes abusos não terminaram com o fim dos conflitos. “Vivemos com as consequências da guerra até hoje”, ela disse. Em 2004, Marijana fundou a ONG Atina com o objetivo de assistir sobreviventes de violência, exploração e tráfico de pessoas na Sérvia. “Estabelecemos o primeiro abrigo para vítimas de tráfico”, contou ao UNFPA.

Hoje, a ONG oferece assistência psicossocial, legal e médica, e colabora para a reintegração social dos sobreviventes. Seus programas são voltados a todas as pessoas, incluindo crianças e homens.

Mais recentemente, Atina buscou suprir as necessidades dos refugiados e imigrantes na Europa, oferecendo serviços médicos e outros cuidados a mulheres e meninas. O UNFPA dá apoio às equipes móveis da ONG Atina e a outros programas.

Para que seja gerada uma mudança concreta, Marijana afirma que a sociedade “deve entender as raízes que causam o tráfico e a violência”. As políticas e os programas são geridos por homens e por isso refletem os interesses masculinos e as normas do patriarcado. As mulheres e meninas permanecem em segundo plano, invisíveis”.

Marijana tem esperança para o futuro: “acredito que nós, enquanto indivíduos, estamos mudando as coisas. Nada está além de nós. Alguns passos podem ser pequenos, mas, quando olhamos para trás, podemos perceber todas as mudanças que já foram feitas”.

3. Carmen Barroso, cientista social e defensora do acesso aos serviços da saúde

Quatro ativistas Carmen Barroso

Carmen diz que suas inspirações incluem as várias feministas que teve a oportunidade de conhecer em sua vida, “das mulheres indígenas em montanhas isoladas da América Latina às mulheres que ousaram quebrar tetos de vidro em todos os lugares”. Foto: cortesia da IPPFWHR.

Após obter seu PhD, ela fundou um centro de estudos sobre mulheres no Brasil. Gradualmente, ela começou a pressionar por reformas políticas que atendessem aos direitos das mulheres e a suas necessidades na saúde.

Enquanto diretora da Fundação MacArthur, e posteriormente diretora da Federação Internacional para a Paternidade Planejada do Hemisfério Ocidental (IPPFWHR), ela defendeu essas demandas em nível global. No ano passado, foi condecorada com o Prêmio de População das Nações Unidas por suas contribuições para a saúde reprodutiva das mulheres.

Nas últimas décadas, Carmen viu certo progresso - mas não o suficiente. “Houve um declínio nos índices mundiais de mortalidade materna, mas a taxa ainda é escandalosamente alta”, disse ao UNFPA. “O risco de morrer após uma gravidez ou por complicações relacionadas ao parto, incluindo abortos inseguros, é 80 vezes maior em países de renda baixa. É a diferença mais contrastante nos indicadores de saúde pública.

Quatro ativistas Carmen Barroso 2

Apesar de as mulheres terem conseguido maior poder político e influência, as conquistas ainda não são suficientes para uma igualdade de gênero plena e para o cumprimento dos direitos básicos das mulheres, de acordo com Carmen. Foto: cortesia da IPPFWHR

Quando questionada sobre os conselhos que daria a outras ativistas dos direitos das mulheres, Carmen listou 12 passos essenciais para as mudanças:

1. Seja corajosa e sonhe. Ouse navegar por mares até então não explorados.

2. Faça a lição de casa. Paixão é o ingrediente essencial mas evidências são a substância do trabalho.

3. Não faça tudo sozinha. Aproveite a força da diversidade.

4. Esteja preparada para enfrentar oposição.

5. Cuide de si própria. Tenha uma vida!

6. Seja estratégica. Não faça tudo ao mesmo tempo.

7. Faça uma jornada leve. Esteja pronta para mudar de curso se necessário.

8. Celebre suas conquistas. Você precisará dessa energia quando houver adversidades.

9. Cometa erros e use-os como oportunidade para aprender.

10. Não perca tempo competindo com colegas. O mundo é grande e há muito o que fazer.

11. Se quiser um/a parceiro/a na vida, escolha bem. Não gaste energia com alguém que não te apoie.

12. Seja sábia com seu dinheiro. A vida é muito preciosa para depender dele.

4. Tanzila Khan, escritora, artista e defensora dos direitos dos jovens e pessoas com deficiência

Quatro ativistas Tanzila Khan

“Toda mulher tem o poder concedido a ela por Deus”, disse Tanzila. Foto: cortesia de Tanzila Khan.

Tanzila Khan, 26 anos, é a cara da nova geração de mulheres ativistas de diversas maneiras: seu trabalho de advocacy é repleto de criatividade e otimismo. “Acredito que todas temos uma voz muito poderosa”, contou ao UNFPA.

Tanzila publicou seu primeiro livro no Paquistão com 16 anos de idade, uma conquista que trouxe a ela atenção e auto-confiança. “Como uma mulher com deficiência, ganhei muita confiança e passei a acreditar em mim mesma. Queria que todas as outras meninas também tivessem esse sentimento”, afirmou.

Ela integrou o Y-Peer, programa de empoderamento de jovens sobre saúde sexual e reprodutiva e sobre direitos apoiado pelo UNFPA. 

Tanzila fundou uma produtora para jovens artistas e se tornou uma palestrante motivacional, encorajando jovens a gozarem de seus direitos e serem agentes de mudança. Atualmente, ela é coordenadora provincial do Fórum Nacional de Mulheres com Deficiência.

Tanzila vê a luta dos direitos das mulheres como parte de esforços continuados para assegurar a paz, a justiça e a igualdade. “Sem o empoderamento de mulheres e meninas, o mundo não verá progresso”, disse.

Seu conselho para outras ativistas? Celebrar e defender as meninas e as mulheres, sem distinção de quem elas sejam. “Daqui de Lahore, eu trabalho e sinto empatia pelas mulheres dos Estados Unidos [e de todos os lugares], independentemente de religião, raça ou identidade”, disse. “É uma irmandade além de fronteiras, devemos cuidar umas das outras”.