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Violência cometida por maridos e companheiros também tende a ser maior entre as que se casam antes dos 18 anos, apontam especialistas do Fundo de População da ONU.

Em todo o mundo, de 3,8% a 8,8% das mulheres grávidas sofrem violência pelos chamados parceiros íntimos, como maridos, namorados e companheiros. Mulheres que se casam antes dos 18 anos também tendem a sofrer mais com a violência de gênero por parte dos parceiros. Os dados foram apresentados pelo Fundo de População das Nações Unidas (ONU) nesta terça-feira, 19, em fórum internacional sobre o tema no Rio de Janeiro.

“A Violência por Parceiro Íntimo durante a gestação é generalizada - estimam que entre 3,8% e 8,8% das grávidas experimentam esse tipo de violência. Inclusive, a gravidez, em si, pode ser um fator para o aparecimento da violência”, alertou a assessora para Violência de Gênero do UNFPA, Upala Devi.

Segundo a especialista, a violência de gênero durante a gravidez tem sérios impactos negativos sobre as mulheres, como depressão, lesões e outros problemas físicos ou de saúde. E também pode se estender aos filhos, refletida em partos prematuros, baixo peso ao nascer e resultados de saúde ruins durante a infância.

Violência perpetuada

A violência que acontece durante a gestação pode não ser apenas uma fase pela qual passam as vítimas. A experiência do UNFPA aponta que muitas mulheres que se casam antes dos 18 anos o fazem para fugir de outros tipos de violência. Mas, pela falta de autonomia, elas tendem a ser as maiores vítimas da violência por parceiros íntimos.

"A violência baseada em gênero é causa e conseqüência: o casamento infantil às vezes é uma fuga da violência, mas casar-se ou em entrar em união antes dos 18 anos aumenta a probabilidade de uma menina sofrer violência do parceiro íntimo ao longo de sua vida", afirma a assessora Regional de Gênero para a América Latina e Caribe do UNFPA, Neus Bernabeu .

Em diferentes fases da vida, a violência contra mulheres e meninas é uma das violações de direitos humanos mais prevalentes no mundo. Segundo o UNFPA, ela afeta a saúde, a dignidade, a segurança e a autonomia de suas vítimas, e, consequentemente, traz problemas para a saúde sexual e reprodutiva, incluindo gravidezes não planejadas, abortos inseguros, fístula traumática, infecções sexualmente transmissíveis, incluindo HIV, e até a morte.

Empoderamento em ações Sul-Sul

Uma das formas de enfrentar a violência de gênero, e que tem sido trabalhada pelo UNFPA Brasil, é a troca de experiências e o empoderamento das mulheres, em especial dos países do Sul global. Dentro do projeto “Brasil-África: lutar contra a pobreza e empoderar as mulheres via Cooperação Sul-Sul”, o UNFPA Brasil promove o intercâmbio de políticas e boas práticas para o enfrentamento à violência de gênero.

“Os países estão comprometidos com a Agenda 2030 e os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, que trata especificamente da igualdade de gênero no ODS 5. Nesse contexto, a cooperação Sul-Sul oferece um modelo que pode ser utilizado para compartilhar boas práticas na prevenção e na abordagem da violência de gênero”, destaca a oficial dos Programas de Gênero, Raça e Etnia e de Cooperação Sul-Sul do UNFPA Brasil, Ana Claudia Pereira.

O projeto foi desenvolvido entre 2015 e 2017 e contou com apoio técnico do UNFPA, da ONU Mulheres e outros parceiros de desenvolvimento. Entre os resultados alcançados estão a capacitação de profissionais de diversas áreas e a criação de um manual de sensibilização de profissionais para o atendimento de mulheres e adolescentes em situação de violência de gênero.

Sobre o Fórum

O Fórum Internacional da Sexual Violence Research Initiative (Iniciativa para pesquisa da Violência Sexual, em português) vem levantando discussões voltadas para experiências e pesquisas de prevenção e resposta à violência sexual e baseada no gênero em países de baixa e média renda, em diversos contextos sociais. O fórum, que começou na segunda-feira, 18, no Rio de Janeiro, encerra nesta quinta, 21. Um dos principais objetivos do evento é discutir de que forma o combate à violência contra mulheres e meninas pode contribuir para a igualdade de direitos entre homens e mulheres, quinto Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 das Nações Unidas, acordado por 193 países. Além da participação nas sessões de debate, o UNFPA está presente em dois estandes no evento.