Conheça a história de Ângela de Souza, de 16 anos, uma das meninas estudantes de escola pública premiadas pelo UNFPA na Olimpíada Nacional de Ciências
Por Isabela Martel
BRASÍLIA, Distrito Federal – “A Ângela sempre foi muito inteligente. Ela começou a falar e andar com oito meses. As pessoas não acreditavam. Ela sempre foi muito curiosa, e teve vontade própria”, recorda a assistente administrativa Maria Evangelina. Sua filha, Ângela Kétlyn Silva de Souza, de 16 anos, é estudante do 1º ano do ensino médio no Instituto Federal do Acre (IFAC) de Cruzeiro do Sul, cidade de 91 mil habitantes a 630 km da capital Rio Branco. Ângela recebeu a medalha de ouro na Olimpíada Nacional de Ciências (ONC), realizada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), com apoio do UNFPA. A adolescente viajou para Brasília para a solenidade de premiação onde, além da medalha, recebeu um prêmio do UNFPA concedido para as meninas estudantes de escolas públicas com o melhor desempenho das cinco regiões do país. Ela foi a primeira colocada da região norte. A conquista é grande: mais de quatro milhões de estudantes, de 4.989 mil municípios do Brasil, se inscreveram na ONC em 2023.
Ângela conheceu a ONC em 2022, por meio de uma professora. “Eu tentei fazer a Olímpiada no ano passado, mas por um problema de conexão de internet, não consegui. Mas esse ano resolvi tentar novamente”, ela relembra. Para se preparar, a adolescente recorreu a lives de revisão dos conteúdos e fez provas antigas. A ONC ocorre anualmente por meio de duas fases de provas. Este ano, a primeira fase foi entre os dias 17, 18 e 19 de agosto. Os estudantes mais bem colocados fizeram a segunda fase entre os dias 14 e 15 de setembro. “Quando eu descobri que tinha passado para a segunda fase, eu fiquei desacreditada, porque eu tinha saído chorando da escola com medo de não ter conseguido. Aí eu decidi estudar mais”, conta. O resultado foi o melhor possível: medalha de ouro. A reação na escola foi inesquecível: “Todo mundo começou a me abraçar, até professores que eu nunca tinha visto! Foi uma sensação ótima, eu me senti uma celebridade”, ela conta. “Foi o chororô mais doido da vida! Fiquei muito feliz porque foi a minha primeira vez fazendo uma Olimpíada, e eu consegui uma medalha de ouro. É uma satisfação muito grande”, ela diz, explicando os sentimentos.
Para chegar à cerimônia de premiação, em Brasília, Ângela viajou de avião pela segunda vez na vida. Ao lado das outras meninas premiadas, ela era só sorrisos. A medalha e o prêmio a motivaram ainda mais, e a adolescente não quer parar: “Eu pretendo participar de várias outras olimpíadas e focar ainda mais nos estudos, porque agora eu vi que tenho plena capacidade”, afirma. Mas não é apenas com os estudos que ela se ocupa. Apesar de física e química serem suas matérias favoritas, a jovem ama a natureza e a tranquilidade longe da internet: “A minha paixão é andar a cavalo, eu gosto de animais e da paz da natureza”, explica. Em um futuro não tão distante, o seu plano é prestar vestibular para medicina. A mãe acredita no potencial da filha e se emociona ao falar da conquista do primeiro lugar na Olimpíada Nacional de Ciências: “Ela se preparou muito, foi maravilhoso, a realização de um sonho. É a minha única filha e eu sou muito feliz por tê-la. Ela me dá muito orgulho. Para mim, é uma filha de ouro!”. Filha de ouro, com medalha de ouro no peito.
Estimular meninas para aplacar desigualdades
Além de Ângela, o UNFPA premiou outras quatro adolescentes: Eduarda de Almeida (Juiz de Fora, Minas Gerais), Kaylanny Ferreira (Itapissuma, Pernambuco), Isabelle Della Méa (Santa Maria, Rio Grande do Sul) e Amanda Carvalho (Brasília, Distrito Federal). O UNFPA tem uma parceria programática com a ONC. Além da premiação, a parceria visa a promoção da igualdade de gênero e o empoderamento de meninas e de jovens com deficiência. Por isso, as provas deste ano tiveram uma abordagem transversal com enfoque em direitos humanos, saúde reprodutiva, violência de gênero e alternativas para a juventude. Além disso, o formulário de inscrição da competição foi adequado para potencializar a participação de pessoas com deficiência, sem deixar ninguém para trás.
As desigualdades de gênero no campo da ciência e tecnologia são discutidas em todo o mundo. No Brasil, as disparidades ainda são muito presentes no dia a dia de mulheres cientistas. Entre as pessoas que possuem título de doutorado no país, 54% são mulheres, mas elas ainda são minoria no cargo de professores permanentes nas universidades: apenas 42%. Em química, por exemplo, mulheres tituladas com doutorado são 52,29% do total, mas representam apenas 36,25% dos docentes permanentes. Os dados são do Grupos de Estudos Multidisciplinares de Ação Afirmativa (Gemaa), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O estímulo à participação de meninas na ONC e a premiação para aquelas com melhor desempenho entre os estudantes de escolas públicas são modos de reconhecer e fortalecer seus potenciais e trajetórias futuras nas profissões e ambientes que desejarem ocupar.