Profissionais que trabalham na resposta humanitária e que estão em região de fronteira com a Venezuela afirmam que o trabalho, apesar de ser um desafio, é transformador
"O trabalho humanitário é uma tarefa de todas as pessoas para apoiar a todas e todos". É assim que o secretário-geral da ONU, António Guterres, define a atuação de trabalhadoras e trabalhadores humanitários de todo o mundo. São pessoas que dedicam suas vidas em prol de apoiar a vida de outras pessoas em contextos de crise climática, guerras e conflitos.
Em homenagem a essa função, 19 de agosto é marcado como o Dia Mundial Humanitário. Em 2003, esse foi o dia em que o escritório da ONU no Iraque sofreu um atentado terrorista que matou 22 pessoas, entre elas o brasileiro Sergio Vieira de Mello.
No Brasil, a emergência humanitária que vem afetando a Venezuela nos últimos anos levou agências da ONU e organizações da sociedade civil ao estado de Roraima, que faz fronteira com o país na região Norte. É o caso de Gisele Freire também que trabalha cidade fronteiriça de Pacaraima, em Roraima. Ela é assistente de proteção para casos de violência baseada em gênero no Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA). "Quando comecei a atuar na fronteira, vi a importância desse trabalho na vida das pessoas - como uma simples informação passada corretamente e com sensibilidade pode mudar a vida de alguém", afirma. Ela diz que o sonho, desde a faculdade, era trabalhar nas Nações Unidas, mas que não tinha a dimensão do quanto esse papel poderia ser transformador. "Por mais que a gente estude sobre o tema e leia muito... quando você pisa no campo e enxerga de perto aquele contexto dos abrigos, das estruturas, é muito surpreendente". Ela, que trabalha diretamente com mulheres e meninas, define o próprio trabalho como uma "prática diária de sororidade".
Gabriela Cardim também trabalha em Roraima, mas na capital Boa Vista, atuando como assistente de programas há dois anos na ONU Mulheres. Para ela, o trabalho da pessoa que atua com questões humanitárias é, muitas vezes, se colocar como uma ferramenta. "As pessoas que atendemos são as protagonistas, estamos aqui na função de apoiá-las". Para Gabriela, a melhor parte do trabalho é a devolutiva. "O mais bonito é quando recebemos um retorno de que o trabalho fez a mínima diferença na vida da pessoa, nem que seja com um aprendizado sobre políticas públicas e os direitos que ela tem no país em que está".
Rebeca Duran, Associada de Soluções Duradouras da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), atua há dois anos em Boa Vista e é responsável por gerar oportunidades de inclusão econômica a pessoas da Venezuela, inclusive por meio das capacitações do Moverse. Para Rebeca, trabalhadoras e trabalhadores humanitários não são os únicos responsáveis por tornar o mundo menos desigual para todas e todos. "O trabalho humanitário é, necessariamente, um trabalho conjunto. As nossas ações só podem ser realizadas se tivermos o esforço de várias instituições, da sociedade civil e das próprias pessoas que estão sendo as mais afetadas pela situação", diz.
Sobre o Moverse – Moverse é uma iniciativa implementada pela Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), ONU Mulheres e Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), com o apoio do Governo de Luxemburgo. Iniciado em setembro de 2021, o programa conjunto MOVERSE – Empoderamento Econômico de Mulheres Refugiadas e Migrantes no Brasil tem como objetivo geral garantir que políticas e estratégias de governos, empresas e instituições públicas e privadas fortaleçam os direitos econômicos e as oportunidades de desenvolvimento entre venezuelanas refugiadas e migrantes. Para alcançar esse objetivo, a iniciativa é construída em três frentes. A primeira trabalha diretamente com empresas, instituições e governos nos temas e ações ligadas a trabalho decente, proteção social e empreendedorismo. A segunda aborda diretamente mulheres refugiadas e migrantes, para que tenham acesso a capacitações e a oportunidades para participar de processos de tomada de decisões ligadas ao mercado laboral e ao empreendedorismo. E a terceira frente trabalha também com refugiadas e migrantes, para que tenham conhecimento e acesso a serviços de resposta à violência baseada em gênero. Para receber informações sobre o Moverse, inscreva-se na newsletter clicando aqui.
Assista, a seguir, o depoimento das três trabalhadoras humanitárias: