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Mulheres indígenas no Brasil e no Paraguai desafiam a desigualdade

Mulheres indígenas no Brasil e no Paraguai desafiam a desigualdade

Histórias

Mulheres indígenas no Brasil e no Paraguai desafiam a desigualdade

calendar_today 05 September 2024

As histórias de Regina, Liliana, Thaís e María Jacinta nos inspiram e nos mostram o valor de seu compromisso com um mundo mais justo.
As histórias de Regina, Liliana, Thaís e María Jacinta nos inspiram e nos mostram o valor de seu compromisso com um mundo mais justo.

ASSUNÇÃO, Paraguai; BRASÍLIA, Brasil - As mulheres indígenas que vivem no Brasil e no Paraguai têm a desigualdade como elemento comum em suas vidas. No Paraguai, uma adolescente indígena de 10 a 19 anos enfrenta 4,7 vezes mais risco de morrer durante a gravidez, o parto ou o puerpério do que uma adolescente não indígena; enquanto no Brasil, uma adolescente indígena tem 2 vezes mais chances de morrer durante a gravidez, o parto ou o puerpério do que uma adolescente não indígena.

Hoje, data que se celebra o Dia Internacional da Mulher Indígena, é uma oportunidade de conhecer a luta de quatro mulheres dos povos desses dois países, que lutam para mudar essa realidade e que nos inspiram com seu exemplo, quebrando padrões e reescrevendo papéis de gênero.

Beatriz

Beatriz

“As mães indígenas cuidam de forma diferente das mães brancas: nós cuidamos em uma rede”, diz Beatriz Emilio, destacando o trabalho cultural das mulheres em sua comunidade.

No sul do Brasil, a terra indígena de Guarita concentra o maior número de indígenas Kaingang do estado: 7.800 em relação aos 30.000 de todo o estado. Beatriz lidera o grupo GT Guarita pela Vida, um espaço que busca proteger e promover os direitos das mulheres e meninas da comunidade.

 “Precisamos de momentos para falar sobre o parto, se as mulheres querem ter mais filhos ou não”, diz Beatriz, já que de todos os nascimentos registrados de mulheres indígenas em 2022, 27,3% foram de meninas e adolescentes de 10 a 19 anos. 

Liliana

Liliana

Liliana Picanerai é do povo Ayorea e trabalha como promotora de saúde na comunidade de Ebetogué, no Chaco paraguaio. “Aqui as pessoas elegem a promotora de saúde indígena e no início foi muito difícil porque eu não podia estudar, pois tive meu filho aos 14 anos”, destaca Liliana, como muitas adolescentes de sua comunidade que não sabem como planejar a gravidez e desconhecem os métodos contraceptivos modernos.

O compromisso de Liliana com o bem-estar do povo de Ebetogué é a contrapartidao contrapeso à sua limitação de não saber ler e escrever. Com um grande sorriso, ela diz que se sente honrada por fazer esse trabalho, sua força motriz, e que ele tem sido fundamental para seu fortalecimento dentro da comunidade. 

Thaís

Thaís

Em Manaus, capital do estado do Amazonas, no Brasil, o Coletivo Miriã Mahsã foi criado em 2021 para atender e ampliar as demandas de sexualidade, saúde, diversidade e identidade da população indígena LGBTQIA+

Thaís Desana, assistente social e uma das fundadoras do Miriã Mahsã, conta que o coletivo está trabalhando para exigir direitos, cuja garantia ainda está pendente. “Jovens estão tendo um papel de protagonismo nessa luta. Estamos conquistando espaços que nos eram negados, reafirmando nossa identidade. Isso é importante porque outras pessoas nos veem aqui e se inspiram, sabendo que, sejam elas indígenas, LGBTQIAPN+ ou negras, podem conquistar o espaço que quiserem, por mais que haja violência e preconceito contra esses corpos”, explica Thaís.

María Jacinta

María Jacinta

Desde que nos lembramos, o povo Sanapaná tem sido liderado por homens. Isso mudou em 2008, quando María Jacinta Pereira Hicret foi nomeada cacica da comunidade indígena Redención, a mais de 400 quilômetros da capital do Paraguai.

Quando participou pela primeira vez de uma reunião nacional de líderes indígenas, ela era a única mulher.

“Sou uma pessoa muito ousada”, uma qualidade que lhe rendeu a liderança de sua comunidade, que é composta por sete povos diferentes. 

Muitos direitos das mulheres indígenas ainda não estão garantidos, “somos agredidas, violentadas, discriminadas e criticadas de forma preconceituosa. Acima de tudo, não nos é garantida a prevenção e a proteção contra a violência”, diz María Jacinta, que está trabalhando para mudar essa situação.  

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Por todas essas razões, “o UNFPA trabalha com os governos para promover investimentos em serviços e informações que permitam às meninas e mulheres indígenas tomar decisões informadas sobre seus corpos”, diz Florbela Fernandes, representante do Fundo de População das Nações Unidas no Brasil e diretora de país para o Paraguai e o Uruguai.

Em ambos os países, promovemos ações para o empoderamento das mulheres indígenas. No Paraguai, a agência faz parte da iniciativa Abriendo caminos, uma plataforma promovida pelo Ministério da Mulher, juntamente com outros atores, para elevar as vozes das mulheres indígenas. Da mesma forma, no Brasil, trabalhamos em parceria com o Ministério da Saúde para fortalecer os Distritos de Saúde Indígenas e empoderar as mulheres indígenas refugiadas e migrantes da Venezuela para enfrentar a violência baseada em gênero, aumentar a resiliência da comunidade e apoiar o acesso aos serviços de saúde e à rede de proteção em Roraima e no Amazonas.
 

Por Carolina Ravera Castro e Thainá Kedzierski