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Trocar experiências na busca por alternativas inclusivas, que respeitem a dignidade humana, que promovam os direitos e que estejam atentas às individualidades e demandas de saúde sexual e reprodutiva de cada paciente. Com este olhar, 20 estudantes de medicina participam neste final de semana (29 e 30 de setembro), em Brasília, do I Workshop de Formação de Líderes em Saúde Sexual e Reprodutiva. Atividade é promovida pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) Brasil e pela Federação Internacional das Associações dos Estudantes de Medicina do Brasil (IFMSA Brazil).

O evento conta com a participação de pesquisadores e especialistas da Universidade de Brasília (UnB), representantes do Ministério da Saúde (MS), Associação Brasileira de Educação Médica (ABEM) e o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS), entre outros. “O UNFPA tem incentivado o aumento dos canais de informação e comunicação, de formação e mobilização da sociedade e de lideranças políticas para aumentar a defesa dos direitos das populações em situação de maior vulnerabilidade. Por isso a importância dessa parceria”, destacou o representante do UNFPA no Brasil, Jaime Nadal. 

“Temos que criar condições para que as novas gerações adquiram conhecimento que lhes permitam fazer escolhas voluntárias e que potencializem o desenvolvimento saudável e o cuidado consigo e com as pessoas com quem se relacionam. Para que possam buscar outros projetos de vida que não passe por uma gravidez precoce e não planejada ou qualquer condição que envolva a não garantia dos seus direitos sexuais e reprodutivos”, completou Nadal. “Vocês, estudantes, são peças importantes e inspiradoras para outros profissionais, contribuindo para o conjunto de ações com o propósito de não deixar ninguém para trás.”

“Queremos influenciar estudantes de medicina e a sociedade, levar conhecimento e tentar promover mudanças”, afirmou a presidente da IFMSA Brazil, Maitê Gadelha. Com mais de 5 mil estudantes de mais de 130 escolas e universidades de medicina no Brasil, a IFMSA Brazil busca, também com essa parceria, ajudar alunos e alunas a desenvolver seu potencial para a promoção da saúde, a inclusão social e causar um impacto positivo na sociedade onde atuam. “Essa é uma oportunidade única, um passo muito importante para aprender mais com quem pesquisa e sabe desses assuntos. Cada estudante aqui tem um plano de ação para desenvolver em suas comunidades, por isso, estão aqui para ser capacitado por organizações e profissionais líderes no tema da saúde sexual e reprodutiva. São dois dias que significam muito para nossa formação”, completou.

Atenção às pessoas em situação de vulnerabilidade

“Temos populações com muita dificuldade de acesso às políticas públicas, em especial de saúde. Sem saúde, acabam sem outras questões básicas para garantia de uma cidadania plena”, destacou o coordenador de Prevenção e Articulação Social do Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das IST, do HIV/Aids e das Hepatites Virais, do Ministério da Saúde, Gil Casimiro. “Temos hoje, por exemplo, um grande desafio frente aos números de infeção por HIV no Brasil, que aumenta entre jovens de 15 a 24 anos. E quando temos o recorte das populações mais vulneráveis, esse número é ainda maior. Eu vejo a esperança em vocês, futuros profissionais de medicina, para que tenham esse olhar diferenciado, atendendo às pessoas segundo suas especificidades, pessoas em situação de vulnerabilidade que sofrem dificuldades em todas as questões, em especial no acesso à saúde pública”, ressaltou.

“A saúde sexual e reprodutiva é um grande tema. Ela faz parte da nossa vida, mas não é uma temática usualmente falada nos cursos de medicina, por isso que essa iniciativa é tão importante, significativa e necessária”, completou a diretora do Departamento de Ações Programáticas Estratégicas (Dapes), do Ministério da Saúde, Thereza de Lamare. “A saúde sexual e reprodutiva tem questões relacionadas com o modo de vida em sociedade, nossas concepções e como o Estado e os governos precisam cuidar da integridade dos direitos humanos, dos direitos básicos do ser humano. E quando olhamos a realidade no Brasil, vemos uma diferença muito grande nisso, muito em função das inequidades”, destacou.

A importância de incluir os temas de saúde sexual e reprodutiva e direitos no currículo e no dia a dia de estudantes de medicina e demais profissionais de saúde também foi reforçada pela diretora da Associação Brasileira de Educação Médica (ABEM), Marcia Hiromi Sakai. “O Brasil é um país extremamente extenso geograficamente, com uma distribuição heterogênea. Sempre que falamos de ações de saúde e de educação, temos que lidar com isso em escala maior. Esse é o desafio que temos para impactar a saúde da população brasileira. E a nossa meta é oferecer a saúde para todas as pessoas. Por isso a importância dessa parceria.”

"Os estudantes estão em fase de aprendizgem e têm grande abertura pra novos conhecimentos, novas perspectivas e novas abordagens. Se nós conseguirmos lhes trazer novos conhecimentos, que gerem atitides propositivas, construtitvas e respeitosas aos direitos sexuais e reprodutivos, certamente vamos influenciar as futuras práticas profissionais", reforçou a professora de Epidemiologia na Universidade de Brasília, Daphne Ratter. "Além disso, nessa idade, eles têm esse sentimento de turma, então é possível que eles levem isso pra turma deles e apresentem, que o que aprenderam aqui seja socializado de uma maneira que influencie mais pessoas. Quando a ente quer colher o futuro, temos que semear o presente, e temos que regar, adubar, cuidar e acreditar que vale a pena."

População, saúde e direitos

Ao longo dos dois dias, os e as estudantes participarão de palestras e debates sobre temas que incluem conceitos de direitos sexuais e reprodutivos e as convenções que os definem, dinâmicas populacionais, planejamento familiar e métodos anticoncepcionais disponíveis no SUS e violência obstétrica. Também estão em pauta as dificuldades da implementação de saúde sexual e reprodutiva na educação médica no Brasil, estratégias de saúde pública na prevenção do HIV/Aids, zero discriminação no atendimento, além das especificidades das migrações, pessoas jovens e população transexual.

Todos os alunos e alunas foram selecionados por uma ampla concorrência, em edital publicado pela IFMSA Brasil. Um dos requisitos para a seleção foi a apresentação de Plano de Ação que deverá ser realizado pela pessoa ao retornar à universidade, como forma disseminação do conhecimento adquirido. 

I Workshop de Formação de Líderes em Saúde Sexual e Reprodutiva