Em Manaus, no coração da Amazônia, Ariel Ramires inicia mais um dia. Aos 46 anos, ela carrega consigo a coragem e a resiliência que marcam a história de tantas mulheres trans no Brasil. Trabalhando como cobradora de ônibus no transporte público da cidade, Ariel divide sua rotina entre os desafios diários e a dedicação ao trabalho que realiza junto à ASSOTRAM, a Associação de Travestis, Transexuais e Transgêneros do Amazonas.
Quando perguntada sobre sua trajetória, Ariel explica: “Conheci a ASSOTRAM através de uma amiga, há quase três anos. Fiquei encantada com o trabalho que fazem, principalmente para apoiar pessoas trans em situação de vulnerabilidade.” A organização tem desempenhado um papel fundamental em sua vida, oferecendo não apenas acolhimento, mas também transformação por meio de cursos de qualificação, assistência médica, orientação e prevenção de doenças, além da distribuição de preservativos e kits dignidade.
Ariel também refletiu sobre os desafios que enfrenta como mulher trans no Brasil, um dos países que mais mata pessoas trans no mundo. “Infelizmente, a maioria da população não está preparada para lidar com a diversidade de gênero. Isso nos traz incertezas diárias e o medo constante de não voltar para casa,” desabafa. Para ela, os olhares de indiferença e o preconceito, muitas vezes associados a estigmas como o envolvimento com drogas e prostituição, são barreiras que impactam profundamente sua vida.
Apesar disso, Ariel acredita em avanços importantes e destaca o impacto positivo da ASSOTRAM: “A organização tem contribuído muito com a qualificação profissional, prevenção de doenças e distribuição de materiais de prevenção. Quando chegamos aos locais de atuação, as pessoas que trabalham como profissionais do sexo até já nos aguardam para receberem a doação dos kits do UNFPA.”
Recentemente, Ariel participou de uma ação em parceria com o UNFPA Brasil, que distribuiu kits dignidade para mulheres trans e profissionais do sexo nas ruas de Manaus. “Esses kits têm grande valia, principalmente para quem vive em situação de vulnerabilidade. Mostra o quanto a ASSOTRAM e o UNFPA se sensibilizam com nossas necessidades,” ressaltou Ariel. Para ela, a parceria com uma agência da ONU representa uma oportunidade de criar pontes para um futuro melhor, com mais dignidade e respeito.
No Dia Nacional da Visibilidade Trans, celebrado em 29 de janeiro, Ariel reflete sobre o significado da data: “Esse dia é um lembrete da luta e memória de quem nos precedeu. É também uma oportunidade para conscientizar as pessoas de que todos somos iguais e merecemos respeito e dignidade.” Ariel também acredita que a visibilidade pode impulsionar mudanças reais: “Precisamos de iniciativas como cotas para pessoas trans no mercado de trabalho, assim como existem cotas para pessoas com deficiência e jovens aprendizes.”
Com o apoio da ASSOTRAM, Ariel encontrou um espaço para fortalecer sua identidade e se reconectar com seus sonhos. “A organização tem um papel fundamental na minha vida e na vida de muitas outras pessoas trans. É um lugar onde somos vistas, ouvidas e respeitadas,” afirmou.
Ao compartilhar sua história, Ariel espera inspirar outras pessoas a enxergar o valor da diversidade e a enfrentar a discriminação contra as pessoas trans. No Dia da Visibilidade Trans, ela deixa uma mensagem de esperança: “Somos parte de um todo, e cada pequeno avanço conta. Em parceria, podemos construir uma sociedade mais justa, onde todas as pessoas tenham dignidade e respeito.”
A ASSOTRAM tem sido parceira do UNFPA desde a chegada do Fundo a Manaus, em 2019, ampliando sua atenção à população migrante, refugiada e apátrida. Em dezembro de 2024, no âmbito do Projeto “Fortalecimento dos Serviços de Violência Baseada no Gênero que Salvam Vidas”, financiado pela USAID (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional), a organização realizou sua abordagem mensal de sensibilização em Manaus, direcionada a travestis, mulheres trans e mulheres cis profissionais do sexo. Durante a ação, foram distribuídos mais de 2.400 preservativos, 800 lubrificantes e 213 informativos, além dos Kits Dignidade doados pelo UNFPA, beneficiando 200 pessoas. Essa iniciativa reflete o compromisso conjunto da ASSOTRAM e do UNFPA em promover dignidade, prevenção e apoio às populações mais vulneráveis.