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A desigualdade racial e de gênero ainda existe no mercado de trabalho e é preciso trabalhar mais para combater práticas que perpetuam a discriminação, informando e promovendo espaços empresariais mais inclusivos. Esta foi uma das conclusões do debate realizado nesta quinta-feira, 6, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura no Brasil (UNESCO), em parceria com o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a ONU Mulheres e a coordenação do Sistema ONU.

Embora sejam mais da metade da população brasileira, pretos e pardos (negros) ainda têm grandes dificuldades em acessar o mercado, o que piora significativamente no caso de mulheres negras -- segundo concluiu uma pesquisa do Instituto Ethos, pessoas negras ocupam apenas 6,3% dos cargos de gerência e 4,7% de cargos executivos em empresas. Quando há inclusão de gênero, ela é de mulheres brancas, e não negras.

O coordenador do Sistema ONU no Brasil, Niky Fabiancic, lembrou que a ONU trabalha há muito tempo no enfrentamento ao  racismo e das desigualdades. Ele citou a Campanha Vidas Negras e todas as ações planejadas no contexto da Década Internacional de Afrodescentes, de forma a promover o respeito, a inclusão e os direitos humanos das pessoas afrodescentes. “Este debate é outra demonstração do compromisso da ONU com a eliminação do racismo e da discriminação, para contribuir com um país mais justo e inclusivo”, concluiu.

A representante adjunta do Fundo de População das Nações Unidas, Júnia Quiroga, ressaltou a importância de potencializar as ações da Década Afro. “Ao mesmo tempo em que é necessário valorizar os esforços para atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, de ninguém ser deixado para trás até 2030, é preciso valorizar a Década Internacional de Afrodescendentes, que foi muito bem demarcada para o período de 2015 para 2024. Precisamos fortalecer seu monitoramento e sobretudo sua implementação. O debate sobre essas questões nos ajuda a responder algumas perguntas, superar limitações e contribuir de maneira mais profunda para reduzir as desigualdades”, avaliou.

Júnia também lembrou que as desigualdades de gênero e raça transcendem a discussão do mercado de trabalho, sendo por exemplo importantes no que se refere ao mandato do Fundo de População da ONU, que trabalha para que todas as gravidezes sejam desejadas, todos os partos seguros e para que todos os jovens alcancem seu pleno potencial. Ressaltou que as mulheres e meninas negras estão em situação de maior vulnerabilidade nos dois primeiros elementos do mandato, o que compromete sobremaneira a conquista de seu pleno potencial.


Debate ocorreu em Brasília (Foto: UNESCO/Rafael Hildebrand)

 

O debate

Com a mediação da representante e diretora da UNESCO no Brasil, Marlova Jovchelovitch Noleto, a roda de debate discutiu os desafios para alcançar a igualdade no mercado de trabalho -- em todos os aspectos. "A ideia desta conversa é mostrar as diversas desigualdades do mercado de trabalho quando falamos de gênero, e que se agravam ainda mais quando combinadas com questões raciais”, afirmou Marlova.

A representante interina da ONU mulheres, Ana Carolina Querino, apresentou dados da agência que revelam que do total de empregos informais criados entre 2014 e 2017, 82% foram ocupados pelas mulheres negras. “A crise financeira que vivemos afeta de forma diferenciada homens e mulheres, e homens e mulheres negros e negras de forma ainda mais marcante. Mulheres negras são boa parte da população desempregada”, lembrou.

Finalizando o debate, a diretora do Instituto Identidades do Brasil (ID BR), Luana Génot, apresentou sua história pessoal, como mulher negra que trabalha para promover a igualdade racial dentro dos espaços corporativos. No evento, ela apresentou seu livro “Sim à Igualdade Racial - Raça e Mercado de Trabalho”. “A desigualdade está nos mínimos detalhes. É um privilégio alguém nunca ter pedido para você mudar o seu cabelo, por exemplo, para trabalhar em um escritório. O Brasil está perdendo com isso. Estamos todos perdendo”, concluiu.