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Em 2008, três produtoras e artistas negras do Distrito Federal questionavam a ausência de produções de pessoas negras nos espaços. Decidiram, então, montar uma produtora para alavancar artistas. Não funcionou muito bem. “A gente viu que não adiantava. A grande questão era o racismo, que afastava da gente todas as possibilidades”, conta a artista Jaqueline Fernandes, de 41 anos. Em 2017, o grupo decidiu criar um evento que, mais tarde, tornaria-se um marco histórico: o Festival Latinidades, um encontro de potências culturais e o maior festival de mulheres negras da América Latina. “No começo, queríamos dar visibilidade para a população negra do DF. Começamos na Esplanada dos Ministérios, um centro administrativo de poder, mas onde só encontrávamos a população negra em papéis subalternos. Criamos um projeto que extrapolou todos os limites”, comemora Jaqueline.

O Festival Latinidades foi inspirado no 25 de Julho, o Dia Internacional da Mulher Negra, Latino Americana e Caribenha. Mas o projeto cresceu tanto que demandou ainda mais. Assim nasceu o Instituto Afrolatinas, uma organização de mulheres negras que desenvolve, a partir do eixo cultural, ações de empoderamento, fomento do empreendedorismo, formação, aceleração, entre outros. O Afrolatinas é uma das organizações contempladas pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) por meio do edital Nas Trilhas de Cairo, que oferece apoio estrutural para organizações da sociedade civil com atuação relevante para a instituição. 

Para Jaqueline, que é presidente do Afrolatinas, o apoio do edital foi fundamental e veio no momento certo. “O Trilhas chegou exatamente quando começamos a colocar o foco no desenvolvimento institucional da nossa organização”, afirma. Os impactos da pandemia da Covid-19, segundo ela, foram maiores para as mulheres negras que trabalham com cultura. “Essas pessoas já estavam na base da pirâmide, o impacto da pandemia foi triplamente sentido. O desgaste e a desestruturação foram enormes”, lamenta.
Agora, o Afrolatinas trabalha para se profissionalizar cada vez mais: com o apoio do UNFPA, o instituto permitiu a manutenção de uma equipe paga e logo mais ganhará uma sede própria, defendendo a cultura e derrubando os obstáculos que nascem das várias formas de discriminação. “Existe uma carga de preconceito muito grande em relação à cultura, apesar de ser uma cadeia produtiva gigante. Nós queremos mostrar que somos uma organização que faz trabalho de base e ação política partindo deste lugar da arte”, diz. “O nosso objetivo é ser referência na gestão cultural e em políticas afirmativas.”