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O Guttmacher Institute publicou, nesta semana, um novo estudo apontando que a demanda por métodos contraceptivos e os serviços de saúde materna e neonatal continua não sendo totalmente atendida nas regiões em desenvolvimento.

O estudo “Adding It Up: Investing in Contraception and Maternal and Newborn Health, 2017” (Investindo em contracepção e saúde materna e neonatal) mostra que, nos países em desenvolvimento, 214 milhões de mulheres querem evitar a gravidez, mas, por diversas razões, não fazem o uso de métodos modernos de contracepção.

Além disso, dezenas de milhões de mulheres não têm acesso a cuidados básicos durante a gravidez e o parto, necessários para protegerem sua saúde e a saúde dos recém-nascidos. Estima-se que 50 milhões de mulheres grávidas no mundo farão menos de quatro visitas de acompanhamento pré-natal e que 35 milhões não darão à luz em uma unidade de saúde.

Embora o progresso tenha sido lento, há um aumento estável do uso de métodos contraceptivos modernos nos países em desenvolvimento, mesmo levando em consideração que o número de mulheres em idade reprodutiva tenha aumentado. Como resultado, o número de mulheres com demanda não atendida por contraceptivos decresceu nos últimos três anos - em 2014, eram 225 milhões. Entretanto, investimentos em planejamento reprodutivo são essenciais para manter estes ganhos e ampliar o progresso. Assegurar que a demanda de todas as mulheres por contracepção seja atendida é fundamental, uma vez que elas representam 84% das gravidezes não planejadas nas regiões em desenvolvimento.
Atender à demanda por planejamento reprodutivo e cuidados relacionados à gravidez nas regiões em desenvolvimento trará um grande impacto na vida de milhões de mulheres e de suas famílias”, disse Ann Starrs, presidente e CEO do Guttmacher Institute. “Muitas mulheres e recém-nascidos ainda não têm acesso a esses serviços essenciais”.

O estudo também aponta que, entre as mulheres que terão filhos em regiões em desenvolvimento em 2017, somente 61% têm quatro ou mais atendimentos pré-natais e 73% fazem seus partos em unidades de saúde. Existem grandes disparidades entre regiões: as taxas apresentadas são inferiores na África, onde menos da metade das mulheres grávidas fazem quatro ou mais visitas de atendimento pré-natal e um pouco mais da metade têm seus filhos em unidades de saúde. Em contrapartida, na América Latina e Caribe, aproximadamente 90% das mulheres têm quatro ou mais atendimentos pré-natais e mais de 90% têm seus filhos em unidades e centros de saúde.

Para atender a demanda por métodos contraceptivos e saúde materna e neonatal nas regiões em desenvolvimento, seriam necessários US$ 52,5 bilhões de dólares anualmente, ou 8,39 dólares por pessoa. A nova pesquisa mostra que estes investimentos são vantajosos economicamente: investir em contraceptivos faz com que o custo dos cuidados com saúde materna e neonatal sejam menores, uma vez que diminuirá a incidência de gravidezes não planejadas. Como resultado, para cada dólar gasto em contraceptivos, 2,30 dólares são economizados no custo dos cuidados relacionados à gravidez.

“Investir em contraceptivos e saúde materna e neonatal tem um ótimo impacto em prevenir mortes desnecessárias de mães e recém-nascidos”, afirma a Dr.ª Jacqueline E. Darroch, principal autora do estudo. “Com o investimento de 8,39 dólares por pessoa, os índices de mortalidade materna poderiam decrescer para um quarto dos níveis atuais e, em relação a mortes neonatais, o número cairia para um quinto das taxas atuais”.

O impacto dos investimentos teria um grande alcance. Atender à demanda por contraceptivos modernos em regiões em desenvolvimento e assegurar que as mulheres grávidas e recém-nascidos recebam cuidados de saúde essenciais teriam os seguintes resultados (com base nos índices de 2017):

• Menos 67 milhões de gravidezes não desejadas (queda de 75%)

• Menos 23 milhões de nascimentos não planejados (queda de 76%)

• Menos 36 milhões de abortos induzidos (queda de 74%)

• Menos 2,2 milhões de mortes neonatais (queda de 80%)

• Menos 224 mil mortes maternas (queda de 73%)

Além disso, investir nesses serviços resultaria em benefícios sociais e econômicos para as mulheres, seus parceiros/as, suas famílias e para a sociedade. Estes benefícios incluem melhoras na educação de mulheres e crianças, aumento nos rendimentos e redução da pobreza.

Reduzir as barreiras para alcançar cuidados de saúde sexual e reprodutiva que sejam acessíveis e aceitáveis requer mudanças nas políticas, na qualidade dos serviços e em fatores socioeconômicos. Pesquisas anteriores concluíram que mulheres usam diversas justificativas para o não uso dos métodos contraceptivos, como a preocupação em relação a efeitos colaterais e riscos à saúde e a crença de que não estão sujeitas a ficarem grávidas por não manterem relações sexuais com frequência. Esta situação indica que contraceptivos de qualidade e aconselhamento ao planejamento reprodutivo são necessários urgentemente.

“Atender às demandas de saúde sexual e reprodutiva nas regiões em desenvolvimento é um objetivo que têm custo acessível e pode ser alcançado se os líderes mundiais derem atenção prioritária ao tema”, afirma Starrs, do Guttmacher Institute.

No Brasil

Estima-se que a demanda não-atendida por contraceptivos se encontre entre os 6% e 7,7% no Brasil, afetando aproximadamente de 3,5 a 4,2 milhões de mulheres em idade reprodutiva. Do total de nascimentos ocorridos nos últimos cinco anos, apenas 54% foram planejados para aquele momento. Entre os 46% restantes, 28% eram desejados para mais tarde e 18% não foram desejados.

O Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) considera que a gravidez não planejada, especialmente na adolescência, está associada a desigualdades mais amplas que afetam principalmente as mulheres dos estratos sociais mais vulneráveis.

O UNFPA defende que todas as gravidezes sejam desejadas e que todos os partos sejam seguros.