Na língua Tupi, Cunhã quer dizer mulher. Quando um grupo de estudantes de psicologia e assistência social da Paraíba se uniu para criar um coletivo feminista, há mais de 30 anos, o nome surgiu naturalmente, como um retorno às origens e uma saudação ao corpo que virou lar. Hoje, o Cunhã Coletivo Feminista é uma organização bem estabelecida e com atuação reconhecida em João Pessoa, atuando em defesa da igualdade de gênero e da liberdade de escolha das mulheres. O coletivo foi uma das instituições contempladas pelo primeiro edital “Nas Trilhas de Cairo”, que oferece apoio a entidades da sociedade civil. O suporte veio em hora muito necessária.
Isso porque, depois de anos de trabalho incentivando mulheres a aprenderem um novo ofício, oferecendo suporte a sobreviventes de violência de gênero, entre outras coisas, a organização se surpreendeu com a chegada da pandemia da Covid-19. E viu, com tristeza, o impacto naquelas a quem se dedicou a empoderar, conforme explica a coordenadora-executiva da instituição, Marina Nóbrega. “As mulheres que atendemos estão precisando muito de assistência naquilo que é mais básico. Elas são cuidadoras, chefes de família, e estão em uma condição muito difícil de alimentação e de saúde. Algumas chegaram até mesmo a tentar o suicídio porque tiveram auxílios interrompidos e estavam devendo dinheiro ao mercado, ao homem do gás. Sem falar na violência doméstica que aumentou muito. Para nós, do coletivo, foi uma carga de trabalho enorme e não conseguimos fazer muita coisa”, explica.
Apesar de ter sede em João Pessoa, o coletivo Cunhã tem atuação em vários municípios da Paraíba. Sua prioridade são pessoas em situação de vulnerabilidade, como mulheres negras, lésbicas, mulheres de assentamentos, comunidades tradicionais, marisqueiras e chefes de família. O apoio do edital Nas Trilhas de Cairo, que se dedica inteiramente a ajudar organizações da sociedade civil a se estruturarem, de forma que consigam continuar operando e ganhem sustentabilidade para seguir seu trabalho, será essencial para seguir em frente, de acordo com Marina Nóbrega. Ela, que é administradora por formação, tem um envolvimento pessoal com o trabalho, para além da burocracia que envolve a busca por recursos. “Quando você começa a conviver com as mulheres, é outro mundo que se abre. É um sentimento de pertencimento, de fazer algo realmente importante”, lembra.
O projeto inscrito pelo Cunhã foi dedicado a melhorar as atividades de comunicação e divulgação da instituição. Para Marina, elas precisam ser vistas para fazer notar. “De uns anos para cá temos tido problemas para angariar recursos. Desde então, perdemos nosso site. Começamos a ver que fazíamos muitas coisas, mas não tínhamos visibilidade. Parecia até que a gente não existia”, lamenta a coordenadora. “Com o apoio, pretendemos investir na divulgação do nosso trabalho, e também na divulgação das atividades exercidas por quem a gente apoia. Com a pandemia, por exemplo, muitas mulheres que vendiam artesanatos em feirinhas ficaram sem renda”.
O objetivo final, como sempre, é só um: “queremos nos fortalecer para fortalecê-las também”.
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