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Um dos principais terreiros de candomblé de Santo Amaro, pequena cidade no Recôncavo Baiano, é também uma casa para o futuro. Batizado de Associação Beneficente Ilê Axé Ojú Onirê — que significa a casa dos olhos de Onirê, cidade na Nigéria onde o orixá Ogum viveu  —, desde 1998 o terreiro desenvolve atividades de incentivo à cultura dos povos tradicionais, ao empreendedorismo e à defesa dos direitos humanos, paralelamente às práticas religiosas. A ideia surgiu quando, após abrir as portas, a vulnerabilidade dos frequentadores saltou aos olhos. “Naquele momento, percebemos que não adiantava fazer os trabalhos religiosos, era preciso fazer um trabalho social e fortalecer a comunidade”, explica Antonioni Afonso, coordenador de projetos da associação. 

A instituição foi uma das contempladas pelo primeiro edital Nas Trilhas de Cairo, iniciativa inédita do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) de apoio a organizações da sociedade civil. Com suas oficinas de capacitação e projetos culturais em uma região majoritariamente negra, a associação recebeu recursos para fortalecer sua atuação social e aperfeiçoar um portal de incentivo ao empreendedorismo de pessoas afrodescendentes, o Empreendendê. 

Segundo Antonioni, o apoio veio no momento mais oportuno. “Na época em que o edital saiu, estávamos um pouco tristes, porque havíamos acabado de concluir um projeto, e não sabíamos se teríamos gás e recursos para continuar”, conta. Para além da ajuda financeira, contudo, o enriquecimento foi além, mostrando aos participantes da associação sua importância na consolidação das metas acordadas em 1994, durante a Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento . “Por mais que eu trabalhasse na área de direitos humanos, eu não tinha tanto conhecimento da agenda do Cairo e da importância dela para nossa atuação, na defesa dos direitos de meninas e mulheres, e da equidade racial”, conta o coordenador. 

Antonioni explica, ainda, que conhecer as outras organizações também “girou a chave” sobre a importância de trabalhar em rede. “Foi maravilhoso também pela possibilidade dos encontros. A gente já trabalhava em rede com outros terreiros, mas agora percebemos a importância de se unir a outras organizações, cujas atividades podem coincidir com as nossas. Foi um processo muito rico, sobre a importância de estar junto e somar esforços”, resume.