Go Back Go Back
Go Back Go Back
Go Back Go Back

“Estamos tomando esse lugar de poder agora, criando e construindo coisas para apontar um outro lugar para todo mundo, é para além da gente”, afirma Fabrício Boliveira

“Estamos tomando esse lugar de poder agora, criando e construindo coisas para apontar um outro lugar para todo mundo, é para além da gente”, afirma Fabrício Boliveira

News

“Estamos tomando esse lugar de poder agora, criando e construindo coisas para apontar um outro lugar para todo mundo, é para além da gente”, afirma Fabrício Boliveira

calendar_today 06 November 2020

Ator Fabrício Boliveira participou do diálogo com jovens negros e negras sobre identidade negra, participação no mercado de trabalho e planos de vida (Reprodução/Youtube UNFPA Brasil)

O Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), por meio da Jornada das Juventudes realizou mais uma edição para debater as reflexões e demandas de pessoas jovens e adolescentes. A edição de quarta-feira (04/11) abordou as identidades negras, formas de racismo e os desafios que as juventudes negras enfrentam na construção de seus planos de vida.

O debate percorreu as vivências dos/das convidados/convidadas para falar sobre autoafirmação, representatividade, mercado de trabalho e os processos de cura e autocuidado. 

Uma das convidadas foi Joice Berth, arquiteta, urbanista, pesquisadora, e autora do livro Empoderamento, da Coleção Feminismos Plurais, disse: “Quando falamos de representatividade temos dois caminhos, o primeiro é o caminho da identificação. E o segundo, é o sentido político da questão, porque nem todas pessoas negras, indígenas, LGBTQI+ estão aptas a fazer a luta necessária dentro dos espaços que elas estão como representatividade. Hoje precisamos pensar também como usar essa representatividade da maneira que nos favoreça”, avaliou.

Para Joice Berth, o mercado de trabalho é um dos elementos que precisam ser ressignificados pela luta antirracista. “A nossa mentalidade é marcada pela colonialidade, e quando a gente fala de racismo, estamos falando de estrutura social. E o mercado de trabalho nos restringe, porque é exatamente nele que existe a possibilidade de mobilidade social, mas isso por si não acabará com o racismo. O racismo vai muito além do capital, mas a dimensão econômica é um dos trabalhos de empoderamento”, disse Joice Berth que também é colunista mensal da Revista Elle Brasil e participa da Coleção Ensaios sobre a Pandemia, da Editora Todavia com o tema Violência de Gênero. 

“Antes eu não me sentia confortável para procurar emprego pela questão da cor, e hoje também não me sinto pela transsexualidade. Você ser negra e trans é estar no final da pirâmide. Porque a sociedade aceita melhor uma mulher trans branca, por conta dos traços finos, e nós como mulheres negras trans há uma visão de medo sobre nós. Hoje estou estudante Direito e trabalhando porque tive oportunidade, e isso não é um privilégio, é um direito. Não podemos ter como única opção a prostituição e sermos desumanizadas”, falou Marcela Gomes de Sena que atua abordando raça, afeto, emprego, transfobia e origens dentro do coletivo Frente Trans PE

O levantamento da plataforma Vagas.com em sua base de dados de mais de 2 mil pessoas cadastradas indica que pessoas negras ocupam apenas 0,7% dos cargos de direção dentro das empresas, sendo maior número somente em posições posições operacionais (47,6%) e técnicas (11,4%). Os dados foram compartilhados por Daniel Ferreira Paixão, 19 anos, ativista comunitário, um dos fundadores do projeto Fruto de Favela. “Quando vi esses dados fiquei me perguntando o que precisamos fazer para que os nossos cresçam, e mudar essa perspectiva de futuro? Enquanto povo preto precisamos nos aquilombar, cada vez mais, para evoluir de forma conjunta. Para construir uma sociedade com um povo preto próspero”. 

Daniel, que é morador do bairro do Jacaré no município de Paulista em Pernambuco, reforçou o aquilombamento como processo de cura no enfrentamento ao racismo. “Sempre quando passei por processos violentos, entendi que o melhor processo de cura que tinha era estar com os meus. Precisamos estar juntos, fortalecidos para conseguir emanar essa luz dentro de nós”, comentou. 

Experiências no mercado de trabalho, racismo e aquilombamento que também foram vivenciadas na trajetória do ator Fabrício Boliveira. “Precisamos pensar no direito que temos como público, e na ideia de fortalecimento do black money, como podemos dizer não e escolher o que queremos consumir. E isso não somente sobre compra, é sobre arte, de cliques, etc. E com nossas atitudes individuais podemos fortalecer esse pensamento de preto no poder, preto na situação de escolha e opinião”. 

No bate-papo, Fabrício também realçou para os/as jovens a importância do autocuidado e as noções de futuro e coletividade. “Nós somos diversos com muitos desejos pela possibilidade de estar em qualquer espaço. Por isso, a auto-observação e o autoconhecimento são aliados. Estamos tomando esse lugar de poder agora, criando e construindo coisas para apontar um outro lugar para todo mundo, é para além da gente”, disse. 

Processos de cura também foram parte da fala de Isabele Vitória dos Santos Silva, 18 anos, de Itaberaba na Bahia. “Eu procuro estudar e aprender pelas coisas ruins que vivencio para tirar algo bom e me potencializar por essas situações. Quando você não está se gostando, de algo em você, a gente tem que buscar a mudança. Porque isso respeita quem você é, e quem você quer ser. Meu processo de cura é ser quem eu sou”, enfatizou Isabele que participa do Núcleo de Cidadania de Adolescentes e do Conselho Consultivo Jovem do UNICEF, e é ativista pelos direitos das crianças e dos adolescentes. 

Ao final, Isabele quis referenciar a ancestralidade de mulheres negras que lutaram por sua identidade e existência com o poema Merecem ser Lembradas de Fredson Martins. “Elas vivem por quem luta por resistência e liberdade/ Há muita resistência em nossa ancestralidade/ À essas mulheres devemos lealdade”. 

A mediação do encontro foi de João Lima, Assistente de Operações e Recursos Humanos do UNFPA

Assista a transmissão na íntegra: https://www.youtube.com/watch?v=SpmEkRNtraA 

_________________________________________________________________________________

 

VOCÊ JÁ OUVIU O PODCAST "FALA, UNFPA"?

 

O Fundo de População das Nações Unidas no Brasil lançou o podcast "Fala, UNFPA" que aborda temas como saúde sexual e reprodutiva, equidade de gênero, raça e etnia, população e desenvolvimento, juventude, cooperação entre países do hemisfério sul e assistência humanitária. Tudo isso, claro, a partir de uma perspectiva de direitos humanos. Saiba mais clicando aqui.