Há mais de 20 anos — “no final do século passado”, como gosta de dizer — Alan Pinheiro dava aulas para jovens adultos no Complexo do Alemão e organizava um pré-vestibular comunitário. Um trabalho constante, que foi ganhando adesão e admiração. Eram as raízes que cresciam e se espalhavam para se tornar uma das organizações líderes no trabalho social de uma das favelas mais populosas do Rio de Janeiro, fortalecendo a cultura, a saúde e a educação, com foco especial na juventude. Nascia, então, o Instituto Raízes em Movimento.
“Esse nome veio a partir da ideia de moradores e ex-moradores buscando criar pontes para o desenvolvimento local, como uma forma de retribuição”, conta Alan, co-fundador e diretor da entidade, que é uma das contempladas pelo edital Nas Trilhas de Cairo, iniciativa inédita do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), criada para apoiar e fortalecer organizações da sociedade civil durante a pandemia.
O objetivo do Raízes em Movimento é promover reflexão e monitoramento para subsidiar políticas públicas em busca de melhorias para a população do Complexo do Alemão. O instituto trabalha com projetos na área de comunicação e cultura, promovendo eventos culturais e cursos de formação em audiovisual; e também mantém um acervo que preserva a história da favela, o Centro de Pesquisa, Documentação e Memória do Complexo do Alemão (CEPEDOCA).
Com o apoio recebido pelo Fundo de População da ONU, de acordo com Alan Pinheiro, a instituição está conseguindo se manter e organizar suas atividades administrativas. Além disso, está organizando um curso inédito sobre a história do Complexo do Alemão. Segundo o diretor do Raízes em Movimento, o momento é de união e conhecimento. “A pandemia deixou ainda mais evidente toda a vulnerabilidade social da população que vive na favela, toda a desigualdade. O Fundo de População da ONU está nos possibilitando construir uma agenda de políticas públicas única, a partir da memória”, relata.
Ele explica que, liderado pelo instituto, há um movimento de fortalecer as organizações locais em torno de uma única agenda coletiva. “Está todo mundo unido para definir o que queremos na saúde, na educação, no saneamento básico e por aí vai. Depois do curso que estamos promovendo, vamos definir isso e cada organização vai trabalhar em suas incidências políticas”, promete. O motivo de estudar e catalogar a história do Complexo, é simples: não há como seguir em frente sem olhar para trás.
“Estamos resgatando nossa memória para construir o futuro”, define.