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Por Fabiane Guimarães

Há mais de 20 anos — “no final do século passado”, como gosta de dizer — Alan Pinheiro dava aulas para jovens adultos no Complexo do Alemão e organizava um pré-vestibular comunitário. Um trabalho constante, que foi ganhando adesão e admiração. Eram as raízes que cresciam e se espalhavam para se tornar uma das organizações líderes no trabalho social de uma das favelas mais populosas do Rio de Janeiro, fortalecendo a cultura, a saúde e a educação, com foco especial na juventude. Nascia, então, o Instituto Raízes em Movimento

“Esse nome veio a partir da ideia de moradores e ex-moradores buscando criar pontes para o desenvolvimento local, como uma forma de retribuição”, conta Alan, co-fundador e diretor da entidade, que é uma das contempladas pelo edital Nas Trilhas de Cairo, iniciativa inédita do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), criada para apoiar e fortalecer organizações da sociedade civil durante a pandemia. 

O objetivo do Raízes em Movimento é promover reflexão e monitoramento para subsidiar políticas públicas em busca de melhorias para a população do Complexo do Alemão. O instituto trabalha com projetos na área de comunicação e cultura, promovendo eventos culturais e cursos de formação em audiovisual; e também mantém um acervo que preserva a história da favela, o Centro de Pesquisa, Documentação e Memória do Complexo do Alemão (CEPEDOCA). 

Com o apoio recebido pelo Fundo de População da ONU, de acordo com Alan Pinheiro, a instituição está conseguindo se manter e organizar suas atividades administrativas. Além disso, está organizando um curso inédito sobre a história do Complexo do Alemão. Segundo o diretor do Raízes em Movimento, o momento é de união e conhecimento. “A pandemia deixou ainda mais evidente toda a vulnerabilidade social da população que vive na favela, toda a desigualdade. O Fundo de População da ONU está nos possibilitando construir uma agenda de políticas públicas única, a partir da memória”, relata.


Uma das realizações do Instituto é o evento cultural "Circulando - Diálogo
e Comunicação na Favela". Na imagem, edição ocorrida antes da pandemia da Covid-19 

 

Ele explica que, liderado pelo instituto, há um movimento de fortalecer as organizações locais em torno de uma única agenda coletiva. “Está todo mundo unido para definir o que queremos na saúde, na educação, no saneamento básico e por aí vai. Depois do curso que estamos promovendo, vamos definir isso e cada organização vai trabalhar em suas incidências políticas”, promete. O motivo de estudar e catalogar a história do Complexo, é simples: não há como seguir em frente sem olhar para trás. 

“Estamos resgatando nossa memória para construir o futuro”, define.