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Brasília - O número de pessoas idosas está aumentando mais rapidamente que qualquer outra faixa etária. Em 2000, pela primeira vez na história, havia mais pessoas com mais de 60 anos que crianças com menos de cinco. Em 2050, a população idosa será maior que a população de menores de 15 anos. Em apenas uma década, o número de pessoas idosas superará a casa de 1 bilhão de pessoas – um aumento de cerca de 200 milhões de indivíduos.

 

Com o objetivo de debater os impactos e oportunidades do acelerado processo global de envelhecimento populacional para o Brasil, o UNFPA, Fundo de População das Nações Unidas, realizou a mesa-redonda “Implicações do Envelhecimento Populacional para o Desenvolvimento e a Inclusão Social no Brasil”. O encontro, que contou com o apoio da Associação Brasileira de Estudos Populacionais (ABEP) e do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares da Universidade de Brasília (UnB), teve como pauta as iniciativas existentes e necessárias para este segmento etário da população nas áreas de previdência, saúde, direitos humanos, gênero e políticas para a juventude.

Participaram representantes da Secretaria Nacional de Juventude (SNJ); do Ministério da Previdência Social (MPS); do Ministério da Saúde (MS); da Secretaria Nacional de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos (SDH); além do UNFPA, ABEP e Universidade de Brasília (UnB). Durante o debate, os participantes ressaltaram a necessidade de um diálogo e ações conjuntas com foco na população idosa.

Segundo Harold Robinson, Representante do UNFPA, o encontro teve como objetivo contribuir para a construção de respostas ao desafio do envelhecimento. “O envelhecimento é uma das mais significativas tendências populacionais do século XXI, com a qual teremos que lidar e para a qual devemos nos preparar a partir de agora. As decisões que tomarmos hoje irão determinar em que medida nós - e as gerações que virão - seremos idosas e idosos autônomos, membros ativos e produtivos da sociedade, vivendo vidas saudáveis e felizes”, apontou.

 

De acordo com o Diretor do Departamento de Políticas de Saúde e Segurança Ocupacional do Ministério da Previdência Social, Cid Roberto Bertozzo Pimentel, o encontro das instituições é fundamental para trabalhar o direito das e dos idosos. “A Previdência não consegue trabalhar sem a Saúde, os Direitos Humanos, ou o Trabalho, por exemplo. Não existe a maior possibilidade de trabalhar com o idoso sem considerar as áreas aqui reunidas”, apontou.

Bônus Demográfico

O debate acontece no período que o país vive o bônus demográfico, momento em que a população economicamente ativa é maior que a população dependente de crianças e idosos, e criando um cenário econômico favorável para o país. No entanto, de acordo com Cassio Turra, Vice-Presidente da Associação Brasileira de Estudos Populacionais (ABEP) e Professor Adjunto do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da UFMG, este momento chega ao fim em 2020.

“O Brasil é o único entre os países em desenvolvimento que aumentou a cobertura da previdência social. Aqui todos têm direito a alguma renda na velhice”, apontou Turra. Segundo o professor, o desafio é manter o crescimento econômico e social com o mesmo nível de bem estar para as próximas gerações.

Para o Ministério da Saúde, é fundamental investir para que a população viva um envelhecimento ativo e saudável. Wendel Pimentel, Assessor da Área Técnica de Saúde do Idoso, destacou a importância de aumentar a expectativa de vida com qualidade para todas as pessoas que estão envelhecendo e torná-las aptas a contribuir com a economia do país.

Juventude versus Envelhecimento

Em 2011 a população jovem alcançou o maior contingente de todos os tempos. O momento é oportuno e estratégico para investir nesta faixa etária, que será, em breve, a população idosa. 

“Não podemos desconectar o envelhecimento e a juventude; são processos associados. É preciso levar em consideração que o jovem hoje é a pessoa que será considerada envelhecida daqui a 20, 30 anos”, apontou Tais Santos, Representante Auxiliar do UNFPA. E completou: “precisamos investir nos jovens hoje promovendo hábitos saudáveis e assegurando oportunidades de educação, emprego, acesso à saúde e cobertura da previdência social”.

Segundo Bruno Elias, Secretário Executivo do Conselho Nacional de Juventude, também é importante conscientizar e mobilizar os jovens, sobretudo sobre a necessidade da contribuição social e econômica. “A juventude é uma fase especial da vida para o diálogo e o convencimento”, defendeu. E, por isso, a importância de investir em conscientização e garimpar jovens envolvidos e ativos na sociedade. Os resultados do investimento na população jovem poderão ser vistos a curto prazo e no futuro.

População idosa e academia

A reflexão sobre investimento na população idosa alcança também o âmbito acadêmico. Leides Moura, Professora do Departamento de Enfermagem e do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento, Sociedade e Cooperação Internacional da UnB, aponta que investir na formação é investir nos futuros profissionais que atuarão com este segmento da população.

“É importante pensar em como toda a abordagem interdisciplinar pode dar conta da complexidade desta população”, apontou. Para Moura, é necessário repensar a grade horária e os próprios indicadores usados atualmente para os estudos.

Economias envelhecidas

Além do bônus demográfico, é importante ressaltar a questão do dividendo de longevidade, gerado com o rápido processo de envelhecimento. Um país envelhecido gera uma economia envelhecida, o que significa um mercado consumidor de pessoas idosas maior que o de pessoas jovens.

“Em 2010 existiam no mundo 23 economias envelhecidas. E a expectativa é que em 2040 sejam 89 economias envelhecidas. São países onde o consumo dos idosos ultrapassa o consumo dos joves”, explicou Tais Santos. De acordo com a Representante Auxiliar, este é um segmento com um bom poder aquisitivo e que começa a ser visado e explorado pelo mercado de consumo.

Envelhecimento no Século XXI

Durante a mesa-redonda, aconteceu o lançamento do Relatório Global "Envelhecimento no Século XXI: Celebração e Desafio", produzido pelo UNFPA, Fundo de População das Nações Unidas, em parceria com a HelpAge International e outras 21 agências do sistema ONU e organizações da Sociedade Civil.

O novo relatório ressalta que, ao mesmo tempo em que a tendência das sociedades em envelhecimento é motivo de celebração, essa tendência também apresenta imensos desafios, na medida em que exige abordagens completamente novas nas áreas do atendimento à saúde, aposentadoria, arranjos para a vida diária e relações intergeracionais.

O relatório “Envelhecimento no Século XXI: Celebração e Desafio” está disponível em:http://unfpa.org/ageingreport (versão na íntegra em inglês) ouhttp://www.unfpa.org.br/sumario%20envelhecimento%20sec%20xx.pdf (sumário executivo em português)