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Neste dia 15 de maio é comemorado o Dia Internacional das Famílias e, em alusão a essa data, o Fundo de População das Nações Unidas lembra as tradições de uma família indígena que, mesmo com os avanços e intersecções com a sociedade moderna, os costumes são preservados. Viver em uma comunidade onde, independentemente dos laços consanguíneos, todos fazem parte da mesma família é uma realidade para Márcia Guajajara e seus três filhos - Fetxawewe, Santiê e Sahiarana.   

Márcia casou aos 13 anos de idade com Santiê Tapuya, do povo Tapuya Funil-ô. Aos 18 anos já tinha sido mãe duas vezes. A união precoce é presente na cultura do povo de Márcia. Ela observa que grande parte das mulheres indígenas em suas comunidades se casam muito cedo.

Saida do Maranhão para Brasília sem falar nenhuma palavra em português, Márcia se estabeleceu com o companheiro em uma região conhecida como Santuário dos Pajés. “Eu falava tupi, não falava português, então criei meus filhos, já em Brasília, falando a minha língua materna”. Para a maioria das culturas indígenas, a vida em comunidade representa um conceito ampliado de família que foge à conformação mais conhecida - pai, mãe e filhos. Para esse povo, toda comunidade é sua família. 

Segundo Fetxawewe, 20, filho mais velho de Márcia Guajajara, a família é a base da sua vida e de tudo o que aprendeu. “Eu sou indígena e minha família é minha origem e minhas raízes, sem ela eu não sou ninguém”. Para eles, todo um povo pode ser identificado como parentes, por exemplo, todos os que são Guajajara são parte da mesma família. Muitas vezes eles compartilham a alimentação, economias, rituais e a responsabilidade pela educação das crianças. “Nós somos chamados de parentes, todos somos parentes e nos ajudamos. A família não se restringe a mim e aos meus três filhos”, acrescentou Márcia.

No mês de maio, a Agenda 2030, formada pelos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), reforça os objetivos 8 - Trabalho Decente e Crescimento Econômico - e 15 - Vida Terrestre. Os dois Objetivos dialogam com a cultura da família indígena. Fetxawewe diz que para um indígena entrar no mercado de trabalho tradicional não é fácil. “Eu trabalhei formalmente, com carteira de trabalho assinada e me senti muito exposto. Sofria preconceitos e não conseguia me sentir pertencente a essa realidade”, lembrou o jovem. 

Em sua comunidade todas as pessoas são responsáveis pela plantação e pelo artesanato. Márcia conta que sua família sempre viveu com pouco dinheiro e superam as adversidades com a venda do artesanato. “Eu e meus filhos vivemos do artesanato. A gente expõe em feiras e vai a eventos também”, conta a matriarca.

Márcia relata ainda que a terra não é apenas uma forma de subsistência, mas parte da vida e da cultura de sua família. “A gente vive da terra. Eu, meus filhos e a minha comunidade plantamos, feijão, milho; criamos galinhas, fazemos nossa própria farinha. Para fazer a roça nós não precisamos desmatar, pois temos uma relação de respeito com a terra, nós cuidamos do meio ambiente”, ressalta Márcia.

O Dia Internacional fornece a oportunidade de aumentar a conscientização das pessoas sobre fatores sociais, econômicos, culturais e demográficos que afetam as famílias nos seus mais variados arranjos. 

O Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) lembra que as famílias precisam  ter seus direitos assegurados, em toda a sua diversidade de arranjos. Questões com a decisão sobre ter ou não ter filhos, quando e quantos e com quem está no centro das discussões sobre população e desenvolvimento, pactuados na Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento (CIPD), realizada no Cairo, em 1994, que representou um marco histórico e uma mudança de paradigma na abordagem global sobre o tema. Se antes os objetivos eram exclusivamente demográficos, após a CIPD o foco se tornou a promoção dos direitos humanos, com ênfase no exercício dos direitos reprodutivos e na autonomia das escolhas individuais.