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Enfrentamento ao racismo, saúde da população negra e ações afirmativas estão entre os temas abordados nos vídeos elaborados pela Ouriçado Produções. Joel Zito Araújo e Heraldo de Deus participaram de cine-debate

Por Giselle Cintra

Em celebração aos 20 anos da Conferência Mundial Contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata, realizada na cidade de Durban/África do Sul em 2001, o Fundo de População das Nações Unidas no Brasil (UNFPA) promoveu na última quarta-feira (24), o cine-debate “Os desafios de comunicar, por audiovisual, sobre enfrentamento ao racismo e intolerâncias correlatas”, na ocasião, foram apresentados três curtas-metragens acerca do tema. 

A Conferência teve por objetivo pactuar um programa de ação direcionado ao combate ao racismo, à discriminação racial, à xenofobia e à intolerância correlata. A Representante do UNFPA no Brasil, Astrid Bant, explicou o impacto da Conferência de Durban no âmbito internacional: “Em 2015 foi lançado um novo instrumento, a Década Internacional de Afrodescendentes, que segue até 2024. A Década proporcionou uma sólida estrutura para a ONU, os Estados-membros, a sociedade civil e outros atores relevantes, de forma a tomar medidas mais eficazes para a implementação do programa de atividades da Conferência de Durban”.

Neste ano, a Conferência completará duas décadas, e para ampliar o debate entre o grande público, o UNFPA criou o projeto "Conferência de Durban: ontem, hoje e amanhã". Três curtas-metragens elaborados pela Ouriçado Produções, foram lançados para levantar a discussão sobre as conquistas alcançadas e os desafios ainda pendentes, dentre os temas abordados estão, saúde da população negra e ações afirmativas. Confira os curtas abaixo:

 

Cineastas participam de debate promovido pelo Fundo de População da ONU

O cine-debate intitulado “Os desafios de comunicar, por audiovisual, sobre enfrentamento ao racismo e intolerâncias correlatas” foi o primeiro evento dos que serão promovidos ao longo do ano, e contou com a participação do ator, publicitário e realizador audiovisual, Heraldo de Deus, que dirigiu e atuou na série de curtas-metragens. Heraldo contou que a Ouriçado Produções surgiu com a pretensão de abordar sobre questões raciais no Youtube: “Desde então, o coletivo vem crescendo. A gente tenta uma vez por mês criar um conteúdo antirracista, mas a grande questão é perceber como ainda é escassa a quantidade de conteúdo que dialogue com esse tema”. 

Heraldo de Deus contou que ainda existem barreiras que “impossibilitam que se produza mais [conteúdo]” e falou sobre a dupla jornada de atores da Ouriçado Produções, que atuaram nos curtas-metragens: “Daniele Souza é sanitarista de verdade, Tainan Guimarães é professora de Direito e a história que Matias conta no vídeo sobre política de cotas é a história [real] dele, todos são atores, mas a gente ainda não consegue ter essa manutenção do coletivo para que a gente possa viver única e exclusivamente dessa profissão”. 


Convidados e convidadas: Astrid Bant (Representante do UNFPA no Brasil), Heraldo de Deus (Realizador Audiovisual), Joel Zito Araújo (Cineasta) e Gabriela Monteiro (Oficial de Programa para Assuntos de Juventude do UNFPA). O cine-debate foi mediado por Rachel Quintiliano, Oficial de Comunicação do UNFPA. Imagem: Reprodução/Zoom

A jornalista e cineasta, Camila de Moraes, não pode estar presente no momento do debate, mas escreveu uma mensagem para quem estava assistindo. Em trecho, ela comenta que são necessárias ações afirmativas no setor audiovisual: “Essas se fazem urgentes para que esse caminhar não seja com tantos obstáculos e cada vez mais obras fílmicas diversificadas estejam inseridas nesse ambiente. Para tanto, uma política específica de investimento nessa área se faz necessária”. 

“O intuito é promover a igualdade de direitos construída a partir de um diálogo com realizador@s negros, a realidade enfrentada, para que se tenha uma representatividade negra dentro desse ambiente com a compreensão e fortalecimento de empatias de outros públicos”, escreveu Camila de Moraes, responsável pelo documentário O Caso do Homem Errado, lançado em 2017.

O premiado diretor, roteirista e produtor executivo de cinema, Joel Zito Araújo, compartilhou sua experiência como produtor de mais de quinze filmes e sua visão sobre o audiovisual brasileiro. “Houve um certo crescimento da participação de pessoas negras no setor audiovisual, mas mesmo com esse crescimento, eu acho que ainda nós não ultrapassamos a condição de sub-representatividade, uma vez que nós somos 56% da população”.

Joel Zito Araújo alerta: “o setor audiovisual é aquele que mais discrimina a população negra no Brasil, mais do que a saúde, mais do que o mercado de trabalho em geral”. Ele trouxe dados de uma pesquisa realizada pela Agência Nacional de Cinema (ANCINE), que mostra o cenário da ‘Diversidade de Gênero e Raça nos Lançamentos Brasileiros de 2016’. “Constataram que homens brancos assinaram a direção de 75,4% do total dos filmes, mulheres brancas dirigiram 19,7%, homens negros somente 2,1%, inclusive eu tive o privilégio de ser um deles, mas nenhum desses filmes lançados em 2016, foi dirigido ou roteirizado por uma mulher negra”.  

Durante todo o ano, o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) no  Brasil continuará promovendo eventos, debates e discussões acerca do tema, no sentido de visibilizar os resultados alcançados após a Conferência de Durban, e também os desafios ainda presentes para o enfrentamento ao racismo, à dsicriminação racial, à xenofobia e intolerâncias correlatas. O cine-debate foi mediado por Rachel Quintiliano, Oficial de Comunicação do UNFPA.