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No meio da pandemia da Covid-19, o Fundo de População da ONU e o Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Pará (Cosems/PA) firmaram parceria para fortalecer o sistema de saúde local e atender mais de 80 mil mulheres em idade reprodutiva residentes em sete municípios do arquipélago de ilha do Marajó, no estado do Pará. 

O Marajó é uma região do Pará que enfrenta inúmeros desafios relacionados às distâncias - alguns municípios ficam a mais de 24h da capital do estado, Belém. O transporte mais comum para acessar a ilha é o barco. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o município de Melgaço, que tem o menor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Brasil, 0,418, tem cerca de 55% da população com uma renda per capita de até 1/2 salário mínimo. 

Serão investidos no projeto cerca de US$ 300 mil dólares, o que equivale a R$ 1,6 milhão de reais. A expectativa é que 80 mil mulheres, em idade reprodutiva e residentes nos sete municípios da região de intervenção do projeto, possam ser beneficiadas. 

A estratégia do projeto para o alcance dessas mulheres prevê o fortalecimento do sistema de saúde da região, com a instalação de salas de telemedicina, além do apoio tecnológico para coordenadores da Atenção Básica, reforço no plano de mobilidade dos e das Agentes Comunitários de Saúde. 

Segundo Charles Tocantins, Presidente do Cosems-PA, “não daria para atender o Pará inteiro, então elegemos sete municípios e elencamos como principal região o arquipélago. Sabemos que, infelizmente, lá está o município com o menor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Brasil e o município com a menor renda per capita do Brasil. Isso faz com que tenhamos essa região como prioridade, nesse momento” diz o presidente.


Charles Tocantins, presidente do Cosems-PA, recebe equipamentos do UNFPA

 

O Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) é a agência de desenvolvimento internacional da ONU que trata de questões populacionais. Desde sua criação, em 1969, tem sido um ator chave nos programas de desenvolvimento populacional relacionados com os temas de saúde sexual, reprodutiva e igualdade de gênero. A instituição trabalha, sobretudo, para que todas as gravidezes sejam desejadas, todos os partos sejam seguros e todas as pessoas jovens alcancem seu potencial. 

Nesse sentido, para Astrid Bant, representante do UNFPA no Brasil, a ação articulada com o Cosems “é uma parceria valiosa para somar esforços no desenvolvimento da saúde pública dos municípios do Pará, em especial na ilha do Marajó. No início deste ano, quando firmamos a parceria, fomos surpreendidos com a pandemia da Covid-19, que tem cobrado um preço muito alto de pessoas e comunidades ao redor do mundo. Não temos dúvida que meninas e mulheres são as que mais sofrem. As ações conjuntas, desenvolvidas com o Cosems/PA, visam minimizar alguns impactos”, afirmou.

Até o momento o projeto, Saúde das Manas, já realizou a entrega de 600 Kits Dignidade (contendo produtos de higiene pessoal) para as mulheres residentes nos municípios impactados pelo projeto. Computadores e televisores foram adquiridos e entregues para o Conselho para a montagem de seis salas para operação de telemedicina com profissionais médicos especialistas em ginecologia e obstetrícia. Neste mês, está previsto a entrega de dez tablets para apoiar o trabalho dos coordenadores e coordenadoras da Atenção Básica, 46 bicicletas para facilitar a locomoção de Agentes Comunitários de Saúde e Equipamentos de Proteção Individual (EPI) para profissionais de saúde que estão na ponta do sistema básico de saúde destas localidades.

Até o final do ano, uma nova remessa de Kit Dignidade será entregue diretamente para as mulheres. A oferta de métodos contraceptivos também será ampliada por meio da doação por parte do UNFPA, de insumos para os serviços de saúde da região. Entre os itens estão camisinhas, contraceptivos injetáveis e pílula de emergência.    

Em paralelo, o projeto Saúde das Manas busca, ainda, fomentar a troca de informações e a educação entre pares por meio de webinários com profissionais do meio acadêmico, dos serviços de saúde de outras regiões do país, construindo, dessa forma, o diálogo e o conhecimento sobre temáticas associadas à saúde reprodutiva. 

Para Nair Souza, Oficial de Programa para Segurança de Insumos em Saúde Sexual e Reprodutiva do UNFPA, a prioridade do projeto é apoiar o fortalecimento dos serviços de saúde reprodutiva, garantindo acesso aos serviços e informação qualificada. “É necessário enfatizar que os direitos reprodutivos das mulheres precisam ser salvaguardados, os serviços de saúde reprodutiva têm que ser mantidos, os insumos têm que chegar às destinatárias, e as mais vulneráveis tem que ser protegidas e apoiadas” explica Nair.