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Doryit é uma mulher venezuelana de 41 anos formada em contabilidade e administração  de empresas, mãe de dois filhos de 10 e 11 anos. Como muitas famílias, chegou ao Brasil em junho de 2018 com seu esposo e filhos, em busca de abrigo e acesso a serviços básicos. Um dos filhos de Doryit tem autismo, razão que acelerou seu processo migratório. A venezuelana trouxe consigo grande capacidade de mobilização e ativismo que, com ajuda do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), mantém viva em solo brasileiro.

 

Na Venezuela, Doryt era ativista pelos direitos das pessoas com autismo e condições semelhantes. Participou da criação do projeto de lei de autismo na (Ley de Atención Integral y Protección para las Personas con Trastornos del Espectro Autista (Tea) y Condiciones Similares), aprovada por unanimidade pela Assembleia Legislativa daquele país em 2016.  Ela teve a iniciativa de criar a associação MUNDO TEA (Transtorno do Espectro Autista), atuando principalmente nas redes sociais, para ajudar outras famílias com crianças autistas do país. 

 

No Brasil, ela conheceu o Fundo de População da ONU por meio do curso das Promotoras Legais Populares, coordenado pelo Núcleo de Mulheres de Roraima em parceria com o UNFPA, do qual foi uma das participantes. Ela afirma que esta foi a motivação para começar sua atividade em ações coletivas dentro do Brasil. A partir de então, Doryit criou um grupo dentro do abrigo, com a finalidade de criar uma rede de apoio entre as mulheres que compartilham o mesmos espaços. “O grupo serve para que as mulheres de alguma forma possam se sentir acompanhadas. Caso surja alguma necessidade ou situação de violência, ela é referenciada aos gestores de abrigo para que eles possam ajudar”, explica Doryit. 

Em contexto de emergências humanitárias, o trabalho do Fundo de População da ONU é garantir ações de promoção da saúde sexual e reprodutiva e de resposta e prevenção da violência baseada em gênero, uma vez que situações de violência podem ocorrer com mais frequência durante o deslocamento forçado, principalmente com a população mais vulnerável, como mulheres e pessoas LGBTI.

 

“Eu agradeço ao UNFPA por ter me dado a oportunidade de capacitação, mesmo que eu já fizesse ações no meu país, esse é agora um país novo e eu preciso me capacitar e documentar nas questões locais para poder facilitar a inserção minha, da minha família e de outras mulheres no Brasil”, afirma Doryit.

 

Nos últimos tempos dentro do país, ela e os filhos enfrentavam diversas dificuldades para acessar serviços da rede pública, como saúde e educação. Chegaram a viver em situação de rua no começo de seu percurso no Brasil, até terem conhecimento da Operação Acolhida e do trabalho das agências da ONU em Roraima, que permitiram que eles pudessem ser alocados dentro de um dos abrigos em Boa Vista.

 

A família se encontra hoje está inscrita no processo de interiorização e espera continuar a atuar em defesa dos direitos das pessoas autistas no Brasil. “Nossa expectativa aqui é ter liberdade, e simplesmente seguir vivendo com qualidade de vida e, sobretudo, ter dignidade. Dignidade que nos foi arrebatada em todos os aspectos”, conclui.