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Profissionais trabalham na Área de Proteção da Operação Acolhida em Roraima

A rotina dos profissionais de enfermagem André Luiz de Souza Cruz e Ana Paula Silva inclui não apenas o cuidado com a vida, mas também ações de prevenção que muitas vezes não ocorrem em ambientes hospitalares. Eles são plantonistas do Fundo de População da ONU (UNFPA) na área de Proteção da Operação Acolhida em Boa Vista (RR). Desde a chegada dos profissionais, em maio de 2020, mais de 670 pessoas refugiadas e migrantes já passaram pela Área de Proteção e puderam contar com assistência em saúde durante toda a noite, das 19h às 7h da manhã. Responsáveis por acompanhar as pessoas com suspeitas ou confirmadas com a doença Covid-19, os profissionais do UNFPA auxiliam nos cuidados relacionados à enfermidade e ainda atendem outras demandas de saúde.

Entre as pessoas acolhidas na Área de Proteção, a grande maioria é de mulheres e crianças. De acordo com o último boletim epidemiológico do estado de Roraima, as mulheres são mais afetadas pela Covid-19, correspondendo a 55% dos casos confirmados na unidade federativa. Além disso, a grande maioria das mulheres confirmadas para a doença (cerca de 70%), estão em idade reprodutiva. Nesse contexto, além de tratar das demandas imediatas, os enfermeiros abordam questões ligadas a saúde sexual e reprodutiva e ao combate à violência de gênero.

“Checamos todos os cuidados referentes à Covid, mas prestamos uma assistência mais humanizada, holística, que é quase uma atenção básica”, conta André. “Abordamos questões de planejamento familiar, violência sexual”, exemplifica o enfermeiro. A atuação inclui espaços de diálogo e disseminação de informação segura sobre  saúde sexual, infecções sexualmente transmissíveis e uso de  contraceptivos.

A área de proteção é dividida em dois espaços, sendo um reservado para pessoas com a confirmação de infecção por Covid-19 e outra para aquelas que estão sob suspeita. A equipe de saúde do UNFPA se reveza no plantão a cada noite, acompanhando de perto pacientes mais graves, garantindo o uso correto das medicações e respondendo outras necessidades. “O principal é Covid, com problema respiratório, coriza, tosse. Fora isso é problema de pele, verminose, diarréia e desnutrição”, relata André.

Ana Paula conta que foi recebida com muita gratidão pelas pessoas refugiadas e migrantes na Área de Proteção. “Quando nós chegamos, eles até agradeceram, porque se não tivesse plantão, não tinha ninguém para dar assistência”, afirma. Para ela, trabalhar pelo UNFPA na área de Proteção, “é uma experiência muito boa”.

André afirma que “esse olhar para o refugiado e para o migrante é muito importante, porque não é só Covid, mas outras patologias, outros agravos. Damos não apenas a assistência, mas promoção e prevenção, educação em saúde, orientações”.

Segundo a representante do UNFPA no Brasil, Astrid Bant, a atuação da equipe de saúde no contexto de assistência humanitária tem por objetivo apoiar a resposta brasileira diante do fluxo migratório e no enfrentamento a pandemia de Covid-19. “Em algumas regiões estamos vivendo uma emergência dentro da emergência e precisamos atuar no sentido de atender todas as pessoas nas suas necessidades específicas e estamos fazendo isso ao nos somarmos a resposta do governo brasileiro em Roraima”. 

Profissionais da área de Proteção que não são ligados ao UNFPA também participaram de processos de sensibilização e formação sobre Violência Baseada em Gênero (VBG) e Proteção Contra Abuso e Exploração Sexual-PSEA. A preparação e iniciativa foi do Sub Grupo de Trabalho em Violência Baseada em Gênero, sendo liderada por UNFPA,  ACNUR, e ONU Mulheres, em articulação com Unicef, Associação Voluntários para o Serviço Internacional (AVSI), Médicos Sem Fronteira (MSF) e Comando da Força-Tarefa Logística Humanitária para o Estado de Roraima.