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De que forma a decisão das mulheres sobre ter ou não filhos deve ser vista pelas empresas? Como oferecer condições para que mulheres possam desenvolver suas carreiras profissionais em um ambiente igualitário, mesmo quando decidem formar família e ter filhos? Qual a importância do envolvimento das empresas na pauta da saúde sexual e reprodutiva para o desenvolvimento do país, independentemente do setor em que atuam? Esses foram alguns dos questionamentos que guiaram debate realizado nesta terça-feira, 25, em São Paulo, durante a Conferência Ethos.

O painel "Alinhando esforços do setor privado na defesa dos direitos da mulher: estratégias inovadoras para fortalecer a agenda de saúde e de direitos sexuais e reprodutivos no Brasil" foi formado por Marina Ferro, gerente-executiva de práticas empresarias e políticas públicas do Instituto Ethos, Jaime Nadal, representante do Fundo de População das Nações Unidas no Brasil, Henriëtte Bersee, cônsul-geral dos Países Baixos em São Paulo, e Janete Vaz, presidente do Conselho de Administração do Grupo Sabin. Todas as organizações fazem parte, ao lado de outras, da Aliança pela Saúde e pelos Direitos Sexuais e Reprodutivos no Brasil.

Durante o debate, foram apresentados dados sobre saúde da mulher compartilhadas experiências de integração e promoção do desenvolvimento profissional das mulheres, além de iniciativas interssetoriais e internacionais pela promoção dos direitos sexuais e reprodutivos.

Uma das experiências é a iniciativa global She Decides, liderada pelos Países Baixos para apoiar organizações e iniciativas pelo empoderamento de meninas e mulheres sobre seus direitos reprodutivos e sexuais. A iniciativa serviu como inspiração para a organização da Aliança pela Saúde e pelos Direitos Sexuais e Reprodutivos no Brasil.


Foto: UNFPA Brasil/Paola Bello

“Gravidez indesejada, morte materna e transmissão do HIV são problemas que preocupam em todo o mundo. Nosso trabalho com parceiros busca melhorar ações de saúde sexual e reprodutiva com objetivos em quatro áreas: educação sexual e serviços para jovens, acesso a contraceptivos e a medicamentos, cuidados da saúde sexual e reprodutiva no sistema público de saúde, e mais respeito aos grupos mais vulneráveis e discriminados”, pontuou a cônsul-geral, Henriëtte Bersee.

A partir da experiência global do She Decides, o UNFPA Brasil se inspirou para impulsionar a Aliança e mobilizar não apenas o setor privado, mas também organizações filantrópicas e representações da sociedade civil, para falar sobre direitos sexuais e reprodutivos no país. Assim, foi lançada em abril a Aliança pela Saúde e pelos Direitos Sexuais e Reprodutivos no Brasil e a campanha Ela Decide Seu Presente e Seu Futuro, que busca levar informações de qualidade sobre saúde sexual e vida reprodutiva a meninas e mulheres.

“Trabalhar com o setor privado e engajar diferentes setores da sociedade está previsto no Objetivo 17 de Desenvolvimento Sustentável. Por isso, o UNFPA trabalha com governos, com a sociedade civil e agora, com o apoio da Holanda, com o setor privado, para mobilizar sobre os direitos sexuais e reprodutivos”, destaca o representante do UNFPA, Jaime Nadal. “Atrás de toda criança feliz e de uma mãe feliz existe um projeto de vida com realizações. A felicidade e o bem-estar estão também na possibilidade de conciliar a vida pessoal e as cargas familiares com a vida profissional”, destacou.

“O futuro de uma mãe não pode ser adiado”, completou a presidente Grupo Sabin, Janete Vaz. No grupo, que hoje conta com 255 unidades em todo o Brasil, dos 4600 colaboradores, 77% são mulheres, e a maioria está em cargos de liderança. “É importante que haja o equilíbrio saudável no relacionamento com colaboradores. Uma mulher empoderada pode ter o desejo de constituir família, ter filhos e também desenvolver a carreira. E as empresas têm que entender isso. E saber que não se compra confiança e reputação”, completou.

Existem no Brasil hoje mais de 55 milhões de mulheres em idade reprodutiva, mas grande parte não tem acesso a informações de qualidade, a serviços de saúde sexual e reprodutiva e a métodos contraceptivos modernos que lhes permitam planejar a vida reprodutiva.

Segundo a gerente-executiva do Instituto Ethos, é preciso também considerar nesse universo as diferenças de acesso oferecidas a diferentes grupos populacionais. “Falar de saúde sexual e reprodutiva é um tema tão importante quanto urgente. E precisamos ter o recorte para saber com que mulher falamos, porque sabemos como isso afeta de forma diferente a vida das mulheres negras e periféricas”, destacou. “Precisamos nos envolver e pensar em políticas públicas para mulheres que estão em grupos em situação de vulnerabilidade. E o setor privado precisa ter iniciativas com perspectivas de empoderamento. É preciso levar a discussão para dentro das empresas. Precisamos transformar valores em práticas.”

Aliança pela Saúde e pelos Direitos Sexuais e Reprodutivos no Brasil na Conferência Ethos