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Toda semana, mais de 100 meninos e meninas venezuelanas e brasileiras trocam suas tardes nas ruas de Boa Vista (Roraima) por aulas de futebol da escolinha do treinador venezuelano Luis Madrid. Na última terça-feira, 19, o treino contou com uma visita especial da comissão técnica do América Futebol Clube de Minas Gerais, que doou para as crianças do projeto cerca 150 artigos esportivos – entre camisas, shorts, meiões e bolas.

O time mineiro foi a Roraima para disputar uma partida oficial da primeira fase da Copa do Brasil. Antes de embarcar, buscou a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) para organizar uma atividade em prol da população venezuelana que vive na cidade. O ACNUR sugeriu uma ação com a equipe do professor Madrid, e o América Mineiro preparou a doação como uma surpresa.

Numa típica tarde ensolarada de Boa Vista, Madrid organizou uma partida envolvendo mais de 20 crianças no campo do projeto, localizado atrás da Rodoviária Internacional da cidade – que tem sido o destino de milhares de venezuelanos em busca de proteção e assistência. Ao fim da partida, o treinador e crianças foram surpreendidos com a entrega dos materiais esportivos.

A presença de jogadores profissionais, jogando com as crianças, animou os treinos. E a ação do América renovou as energias do treinador e da equipe, transmitindo uma mensagem de acolhimento aos venezuelanos e venezuelanas que estão na capital de Roraima.

O projeto é mantido por Madrid, com o apoio do ACNUR e do Fundo de População das Nações Unidas (UNPFA) por meio de um projeto implementado em parceria com a União Europeia. Com 41 anos de idade, Madrid vez do Brasil a sua casa. Ele respira futebol desde os 7 anos de idade e trabalhou como treinador juvenil de clubes e da própria seleção venezuelana. Atualmente em Boa Vista, ele mantém o projeto de futebol de forma espontânea, com a ajuda adicional de outras organizações, como o Fundo para a Infância das Nações Unidas (UNICEF).

Quando perguntado qual é a maior motivação para continuar o projeto, Madrid, que já foi presidente de La Liga Nacional de Futebol Menor na Venezuela afirma que “o projeto é focado nas crianças que não teriam uma oportunidade como essa, de usar o tempo delas com algo bom. Porque esporte é vida, é educação, é uma das artes mais belas do mundo”.

Representantes das agências ACNUR, Gabriela Cortina, e UNFPA, Igo Martini; técnico Luis Madrid, e parte da comitiva técnica do América Mineiro, Maickel Padilha e Luiz Kriwat.


Representantes das agências ACNUR, Gabriela Cortina, e UNFPA, Igo Martini; técnico Luis Madrid, e parte da comitiva técnica do América Mineiro, Maickel Padilha e Luiz Kriwat (Foto: ©Trópico/Vino Carvalho)

A ação do “Coelho”, como o time mineiro é conhecido, reforçou a mensagem da campanha “Histórias em Movimento”, lançada pelo UNFPA, ACNUR e União Europeia para reduzir a xenofobia e levar brasileiros e brasileiras a se colocarem no lugar de refugiados e migrantes que vêm da Venezuela para o Brasil.

A visita contou com a prenseça Luiz Kriwat, gerente de futebol do América, Felipe Conceição, ex-jogador e auxiliar técnico do Coelho, e Maickel Padilha, analista de desempenho. E também de representantes do ACNUR e do UNFPA em Roraima, Gabriela Cortina e Igo Martini – respectivamente.

“A administração do clube sempre conversa sobre o impacto social que o esporte pode ter nas comunidades, e creditamos que é trabalho de todos os clubes fazer algo para influenciar positivamente a sociedade” disse Luiz Kriwat, gerente de futebol do América.


Os treinos são sempre feitos com times mistos de meninos e meninas (Foto: ©Trópico/Vino Carvalho)


Os treinos são todas segundas, quartas e sexta, com jogos recreativos nos sábados e domingos, com a intenção de ocupar o tempo livre dos jovens da melhor forma (Foto: © Trópico/Vino Carvalho)

Os treinos são todas segundas, quartas e sexta, com jogos recreativos nos sábados e domingos, com a intenção de ocupar o tempo livre dos jovens da melhor forma.

Os treinos são sempre feitos com times mistos de meninos e meninas.

Desde 2014, mais de 3 milhões de venezuelanos deixaram seu país, naquele que é o maior êxodo na história recente da América Latina. Muitas destas pessoas estão sendo forçadas a deixar sua terra natal por conta da violência, insegurança e falta de comida, remédios e serviços básicos.

Mais de 85 mil venezuelanos solicitaram refúgio no Brasil, e outros 10 mil obtiveram residência temporária no país. Atualmente, cerca de 6 mil moram em abrigos em Boa Vista e Pacaraima, além de vários outros que vivem em situação de vulnerabilidade.


Para mais informações sobre campanha anti-xenofobia “Histórias em Movimento” siga ACNUR e UNFPA nas redes sociais. (Foto: © Trópico/Vino Carvalho)

“Acreditamos na coexistencia pacífica entre venezuelanos e brasileiros, e esse projeto e o treinador Madrid são exemplos vivos de que isso é possível. Iniciativas como a do América Mineiro são essenciais para prosseguir com esse objetivo”, afirma Gabriela Cortina, do ACNUR.

”Algumas populações chegam em situação de maior vulnerabilidade, como é o caso de crianças, adolescentes e jovens. As agências da ONU têm trabalhado de maneira conjunta para atender a essas pessoas com dignidade e respeito, e para que tenham garantidos seus direitos”, destaca o Coordenador do Escritório de Projeto do UNFPA em Roraima, Igo Martini.

 

Por: Daniel Hott e Allana Ferreira, de Boa Vista