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Evento interativo reúne Secretário Geral da ONU, chefes de agências e quase 700 jovens de vários países; representantes do Brasil discutem o tema da violência.

Nações Unidas, Nova York - "A sua geração é a maior que o mundo já conheceu," disse o Secretário-Geral da ONU Ban Ki-moon aos jovens na abertura do encontro UNiting for Youth (Unindo para a Juventude, em tradução livre), a iniciativa das Nações Unidas de diálogo interativo com as e os jovens. O encontro, realizado na última quarta-feira, abriu as comemorações do Dia Internacional da Juventude, celebrado hoje.

"As ferramentas que vocês dispõe atualmente para comunicar e agir não têm precedentes. Assim como os desafios - das desigualdades crescentes e oportunidades cada vez menores, às ameaças das mudanças climáticas e degradação do meio ambiente", acrescentou Ban Ki-moon.

Durante o evento, que reuniu altos funcionários da ONU e jovens de todo o mundo, o secretário-geral reafirmou o compromisso das Nações Unidas com o empoderamento da juventude, conforme descrito no Plano de Ação para a Juventude do Sistema Nações Unidas,  primeira estratégia comum da ONU dessa natureza.

O Plano centra-se em cinco áreas temáticas: emprego e empreendedorismo; inclusão política; engajamento cívico e proteção dos direitos; educação, incluindo a educação abrangente em sexualidade; e saúde.

O diálogo interativo contou ainda com um painel de altos funcionários da ONU: o Diretor Executivo do UNFPA, Fundo de População da ONU, Dr. Babatunde Osotimehin; a chefe interina da ONU Mulheres, Sra. Lakshmi Puri; o representante especial para Juventude e Inclusão Social da Organização Internacional do Trabalho, Sr. Charles Dan, e o Secretário-Geral Assistente e Diretor Regional para os Estados Árabes do Programa de Desenvolvimento da ONU, Dr. Sima Bahous.

O Dr. Osotimehin abriu o painel de discussão dizendo: "Estou feliz em ver que os jovens estão se engajando na conversa. Ou seja, não estamos falando para eles, estamos falando com eles. Essa é a forma pela qual podemos avançar."

Ele descreveu o compromisso da Rede Interagencial das Nações Unidas para o Desenvolvimento da Juventude com uma abordagem holística e coordenada das questões da juventude, enfatizando especialmente a importância da participação dos jovens em todos os níveis de governança. "Muitas vezes, como adultos, nós prescrevemos os nossos valores para a juventude sem ouví-los. Precisamos aumentar a participação cívica dos jovens, a fim de apreciar os sistemas de valores e expectativas da juventude." Dr. Osotimehin disse.

Em seguida, jovens participantes presentes na Assembléia Geral da ONU, em Nova York, apresentaram suas questões, juntamente com jovens do Brasil, Líbano, Índia, Bélgica e Nigéria, via redes sociais como Facebook e Twitter, além de videoconferência.

"O que nós, como jovens, podemos fazer para eliminar os obstáculos ao acesso a contraceptivos?", perguntou um jovem na sala. "O que a ONU pode fazer para defender o acesso a informações e serviços de saúde sexual, especialmente para os jovens em áreas rurais?" perguntou um nigeriano através da videoconferência. "Como o desenvolvimento sustentável deve ser levado em consideração nas decisões sobre políticas de emprego para a juventude?", quis saber um jovem da Bélgica.

Várias outras questões foram discutidas, relacionadas à saúde reprodutiva, maior comunicação internacional entre jovens e uso de novas tecnologias para promover os direitos dos jovens, entre outras.

Brasil discute violência

Reunidos com o apoio do UNFPA na Casa da ONU, em Brasília, 25 jovens lideranças ligadas ao Conselho Nacional da Juventude e articuladores do Plano Juventude Viva acompanharam o diálogo por meio de videoconferência. Luiz Inácio da Silva Rocha, membro do Fórum Nacional da Juventude Negra e do Movimento Nacional dos Direitos Humanos foi um dos 5 jovens em todo o mundo escolhidos para fazer uma pergunta diretamente ao Secretário Geral da ONU, Ban Ki-moon. Ele perguntou sobre o papel da ONU e os mecanismos estabelecidos para ampliar a agenda global de prevenção do crime e violência, que afeta mais diretamente a população jovem.

O Secretário Geral reconheceu que os índices de criminalidade são uma ameaça à segurança de todos e explicou que a ONU está trabalhando com os governos na a elaboração de normas e padrões acordados por todos para a prevenção da violência, com o envolvimento das e dos jovens. Ele destacou ainda a prioridade dada à violência de gênero. “Temos que trabalhar juntos”, afirmou ele. 

Durante o diálogo, o presidente do Conselho Nacional da Juventude, Alessandro Melchior, teve a oportunidade de fazer outra intervenção sobre violência, na qual defendeu a desmilitarização das polícias: “policiais devem proteger a vida, não tratar os jovens das favelas como inimigos”, destacou ele, que também manifestou a posição contrária dos jovens brasileiros em relação às propostas de redução da maioridade penal. Ele defendeu ainda a efetiva implementação do Plano Juventude Viva, iniciativa do Governo Federal para reduzir a vulnerabilidade dos jovens aos homicídios, que afetam principalmente jovens homens negros. O Plano, que envolve 11 ministérios e é coordenado pela Secretaria Nacional de Juventude (SNJ) e Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) prioriza 132 municípios brasileiros com as maiores taxas de violência contra jovens.

“Foi um diálogo importante, porque provocou uma reflexão sobre a violência sofrida pelos jovens”, avaliou Luiz Rocha.“Espero que, a partir dessa oportunidade, a ONU possa contribuir mais no desenvolvimento de ações de prevenção da violência sofrida pelos jovens e garantir os direitos desse segmento”.

Para Fernanda Papa, coordenadora-geral de Relações Institucionais e coordenadora do Plano Juventude Viva da SNJ, o diálogo foi um “encontro inédito, inovador” que trouxe o tema do crime e da violência para o âmbito  das Nações Unidas e deu novo impulso ao tema das políticas públicas para a juventude. “A questão da violência está estreitamente ligada aos direitos humanos, o risco à vida vem antes da violação de qualquer outro direito, mas todos os direitos humanos são importantes na sua prevenção”, concluiu ela.