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Após missão em Manaus, Boa Vista e Pacaraima, estratégia para 2022 deve reforçar ações para o fortalecimento das capacidade institucionais na região Norte, segundo coordenador de saúde sexual e reprodutiva em emergências

Por Pedro Sibahi

O coordenador de saúde sexual e reprodutiva em emergências no Escritório Regional para América Latina e Caribe (LACRO), Juan Pablo Protto, visitou Manaus, Boa Vista e Pacaraima nas primeiras semanas de dezembro para acompanhar o trabalho do Fundo de População da ONU (UNFPA) com as pessoas refugiadas e migrantes. “O ano de 2021 foi desafiador, pois tivemos não apenas a crise migratória de pessoas vinda da Venezuela, como a pandemia de Covid-19. Isso fez o UNFPA Brasil trabalhar com esforço redobrado. Nesse contexto de resposta, o UNFPA esteve perto das pessoas, de muitas mulheres em idade reprodutiva, adolescentes, pessoas com deficiência, dando informações que salvam vidas em matéria de saúde sexual e reprodutiva, cuidados e acesso a serviço”, afirmou.

Segundo Protto, que coordena também a resposta humanitária em crises como a do Haiti, o fluxo de pessoas refugiadas e migrantes vindas da Venezuela representa um desafio crescente. “Essa migração vai continuar por muito tempo”, avalia. “Não é questão de meses, espero estar errado, mas deve seguir por um período bastante prolongado. Isso requer um fortalecimento das capacidades institucionais e realmente dar às instituições um apoio para essa resposta. A aposta do UNFPA trabalhar essa relação entre assistência humanitária e desenvolvimento - como apoiamos essa primeira acolhida, que é humanitária, de responder às necessidades das pessoas chegando no Brasil, mas também permitir que as secretarias municipais e estaduais, maternidades, as UBS, fortaleçam suas capacidades para que possam atender essa população que já está no Brasil, mas também a população brasileira”.

Coordenador de SSR no UNFPA LACRO em reunião com secretária de saúde de Pacaraima (RR) (Foto: Pedro Sibahi/UNFPA)
Coordenador de SSR no UNFPA LACRO em reunião com secretária de saúde de Pacaraima (RR) (Foto: Pedro Sibahi/UNFPA)

O coordenador de saúde sexual e reprodutiva destacou a importância de todo o trabalho realizado em 2021, desde as consultas médicas até o trabalho de planejamento reprodutivo, incluindo as jornadas onde foram entregues métodos contraceptivos. “Neste final de ano, com a visita, vejo que as necessidades são cada vez maiores, as pessoas seguem em alta vulnerabilidade, seguem chegando em situação bastante debilitada”, afirmou Protto. Ele destacou ainda a importância de todo o trabalho cultural realizado com os povos indígenas, especialmente com a população Warao.

Para o ano de 2022, Protto reforça que o UNFPA não se pautará por uma política substitutiva de serviços públicos, mas irá direcionar ainda mais esforços para fortalecer as capacidades institucionais locais. “Vamos trabalhar com os assistentes comunitários de saúde dos distritos sanitários, que é onde está a população migrante e a população brasileira, para levar mensagens de prevenção que salvam vidas. Queremos reforçar também a atuação nos abrigos, envolvendo mais as pessoas de outras organizações parceiras e as próprias pessoas abrigadas, para que sejam agentes de mudança e levem transformações nesses locais”. A disseminação de informações sobre o funcionamento da rede de saúde também deve ganhar maior atenção. “As pessoas precisam saber aonde ir, quais são seus direitos, como obter um cartão SUS, onde estão os serviços e como realizar cuidados”, acrescentou.

Juan Protto em conversa com mulheres refugiadas e migrantes no PITRIG de Boa Vista (Foto: Pedro Sibahi/UNFPA)
Juan Protto em conversa com mulheres refugiadas e migrantes no PITRIG de Boa Vista (Foto: Pedro Sibahi/UNFPA)

Entre as estratégias de fortalecimento, haverá atividades de formação para profissionais da saúde, entre outros tipos de capacitação. “Há muitas mulheres que chegam com implante contraceptivo, mas que não é ofertado no Brasil. Muitas querem retirar esse implante, mas não contam com pessoal capacitado para realizar este procedimento. Uma de nossas apostas será fortalecer as capacidades do pessoal de saúde para dar esse tipo de resposta”, exemplificou Juan Protto. “A chave é garantir que as pessoas com necessidades, incluindo gestantes, adolescentes, meninas, meninos e pessoas com deficiência possam se aproximar e acessar serviços e insumos de saúde sexual e reprodutiva”, concluiu.

Juan Protto esteve em missão no Brasil entre os dias 6 e 22 de dezembro, passando pelas cidades de Manaus, Boa Vista e Pacaraima. No Amazonas, ele foi acompanhado pela chefe de escritório em Manaus, Débora Rodrigues, assim como pelas assistentes de campo para saúde sexual e reprodutiva, Maressa Queiroz e Juliana Dantas. Em Roraima, esteve também o oficial de programa para assuntos humanitários, Caio Oliveira, assim como o chefe de escritório e oficial de projetos, Igo Martini, além do enfermeiro obstetra e assistente de proteção para saúde sexual e reprodutiva, Leandro Morais. Juan e a equipe do UNFPA estiveram em reuniões com secretarias municipais e estaduais de saúde, com gestores de hospitais e maternidades, unidades básicas de saúde, abrigos e da Operação Acolhida, assim como a própria equipe do UNFPA Brasil.